Essa quinta – feira chega aos cinemas uma grande surpresa, por coincidência dos mesmos produtores da grande surpresa do ano passado, Kingsman: Serviço Secreto. A mesma turma traz Voando Alto, um filme que levanta poucas expectativas, mas entrega deliciosamente mais do que esperamos.
Com o sonho de participar dos Jogos Olímpicos, Eddie Edwards (Taron Egerton) contava com poucas chances e muitos problemas: não tinha ninguém que o financiasse e, principalmente, enfrentava um problema na visão que o obrigava a usar óculos de grau por baixo dos óculos de proteção. Além disto, passou boa parte da infância tendo que lidar com problemas no joelho. Ainda assim, a paixão pelas Olimpíadas fez com que ele tentasse todo tipo de esporte. Eddie não queria ganhar uma medalha, mas simplesmente participar do evento. Até que, após ser dispensado da equipe de esqui, percebeu que teria uma chance na categoria de salto sobre esqui, já que a Grã-Bretanha não possuía uma equipe no esporte há décadas. Para conseguir a tão sonhada vaga nos Jogos Olímpicos de 1988, ele conta com a ajuda de Bronson Peary (Hugh Jackman), um ex-esportista talentoso que enfrentou problemas de disciplina em sua época de atleta.
O filme tem uma pegada típica Sessão da Tarde, daqueles que dão até nostalgia quando começam, é um longa que se passa nos anos 80 e efetivamente parece ter sido filmado nos anos 80. Principalmente nesse primeiro ato que mostra Eddie ainda criança, numa típica vizinha americana dos anos 70/80, que naturalmente tem uma estética muito parecida com filmes clássicos infantis da Sessão da Tarde, como Os Goonies. A trilha sonora oitentista também mostra as intenções do longa com acordes típicos da década, com muito teclado e recursos eletrônicos, a grande moda da música pop da época.
O diretor Dexter Flecther aproveita da plástica do salto sobre esqui para oferecer algumas belas tomadas (boa parte em C.G.I, mas ainda belas) ele também mantém as paletas de cores sempre mais vibrantes (mesmo filmando muito na neve), justamente para dar esse tom “alegre”, o estilo “feel good” que poucos diretores de hoje sabem como alcançar.
O diretor trabalha com perfeição a edição de áudio e cenas em 3D. Todas as quedas e acidentes de Eddie são sentidos pelo espectador com um impacto extremamente realista, o som perfeito nos faz sentir a dor do personagem como se fossem nossos ossos ali, e as animações em 3D são praticamente imperceptíveis, não deixam nada a dever para uma perigosa cena com dublês.
O roteiro é bastante simples, o que facilita a execução do filme, apesar de baseado em uma história real, ele é bem mais voltado para a comédia e faz alguma concessões em cima da personalidade do personagem Eddie “The Eagle” que por si só é uma figura carismática, ingênua e divertida.
É um história de superação sem aquela vibe tão edificante, pois o atleta em questão não é nem de longe um dos melhores, mas sua grande lição está mais ligada a base do espírito olímpico, que diz que o mais importante é participar, é ter vontade de fazer o seu melhor, mesmo que esse melhor não possa levá-lo a vitória.
A direção de elenco é competente e conta com bons talentos. Hugh Jackman e Taron Egerton formam uma dupla carismática de treinador e atleta. O personagem de Hugh Jackman, em verdade, lhe exige bem menos do que o ator habitualmente pode entregar. A surpresa fica por conta de Taron Egerton que mostra uma dedicação especial ao papel de Eddie, com um estudo minucioso dos trejeitos do atleta (algo que fica muito claro no final do filme, quando imagens do próprio Eddie Edwards aparecem nos créditos). Mais uma atuação certeira do jovem Taron que vem se mostrando um ator carismático e deve ganhar muito espaço nos próximos anos.
Enfim, Voando Alto é um filme inspirador sem ser chato e motivacional sem ficar batendo na mesma tecla o tempo todo (apesar de apelar em certo momento para a batida frase “você nunca vai conseguir”). Há algumas alternativas de conclusão discutíveis, sentimos falta de um fechamento de ciclo mais forte na relação treinado e treinador e diálogos melhores. O filme parece dar abertura para uma “continuação” que aparentemente não faz sentido por se tratar de uma história real.
Apesar desses detalhes, é o tipo de longa simples que tem uma força muito pura para gerar indicações entre o público. Os tempos mudam, mas filmes divertidos com histórias singelas e bem contadas sempre estarão na moda … Confira nossa Chuck Nota logo abaixo…