Um pouco de chuva e Woody Allen desapontado com suas musas
Os jovens Ashleigh (Elle Fanning) e Gatsby (Timothée Chalamet) formam um casal que planeja uma viagem romântica a Nova York. No entanto, quando chegam no local, os planos mudam: Ashleigh descobre a possibilidade de fazer uma entrevista com o famoso diretor de cinema Roland Pollard (Liev Schreiber), e Gatsby acaba encontrando a irmã (Selena Gomez) de uma antiga namorada. Ao longo do passeio, Ashleigh e Gatsby descobrem novas paixões e oportunidades únicas.
“Um Dia de Chuva em Nova York” é o novo filme de Woody Allen, mas mesmo que você não soubesse, em poucas cenas perceberia. Encontros, desencontros, interpretações da vida, enfim, o cotidiano meio extremo que Woody tanto gosta de revisitar.
Apesar de suas polêmicas, como sempre, ao redor do cineasta, muitas estrelas de Hollywood se amontoando para participar dos filmes. Nesse caso, vemos dois queridinhos da nova geração, Timotheé Chalamet (“O Rei”) e Elle Fanning (“Malévola”) se envolvendo de forma muito natural com a história, com destaque para Elle. A atriz que tem um trabalho quase irritante em “Malévola 2“, é a prova de que uma direção pode mudar tudo. Nas mãos de Woody Allen, ela se torna outra artista. Constrói uma protagonista cheia de trejeitos, estranhamente errada e divertida, que faz o filme funcionar com a pitada de confusão da comédia romantica que ele de certa forma é. Já Timotheé tem uma missão aparente de interpretar uma versão jovem do próprio Allen, deslocado e cheio de ideias, ainda que seja o personagem menos interessante dos protagonistas.
Nomes como Liev Schreiber (“Wolverine: Origens“), Diego Luna (“Rogue One“) e Jude Law (“Capitã Marvel“) ainda fazem ótimas participações de luxo em “Um Dia de Chuva em Nova York” .
Woody Allen novamente centra sua trama numa cidade que o fascina, e que valoriza o pano de fundo de um roteiro que combina com ela. No filme Allen tenta mostrar a “força do acaso” contra a pressão dos planos e expectativas. Nova York é uma grande metrópole, e uma característica em comum das grande metrópoles é que as pessoas tem menos controle sob sua vidas do que pensam que tem e; para Allen isso é o espelho das expectativas dos jovens. O casal de protagonistas vindo de uma cidade “pequena”, faz planos simples, que não deveriam render surpresas. Mas ao chegar na metrópole são engolidos pela força do acaso, pelos encontros inesperados e por sua inabilidade para lidar com eles.
Enquanto presenciamos os sempre excelentes diálogos escritos por Allen, um divertido efeito dominó se constrói e molda a cabeça dos personagens. Algumas boas e inocentes piadas contribuem para que esse estilo de comédia, mais agridoce, faça sentido numa cidade e rotina tão caótica.
Com uma paleta de cores sempre clara e trilha amena, o filme flui às vezes de um forma um pouco mais sonolenta do que se imagina. O ritmo não é bem um traço do cineasta, então, quem não conhece sua filmografia pode ficar incomodado. Outros momentos específicos podem desagradar as mulheres que se acostumaram a ser retratadas de forma quase heroica pelo diretor. O novo longa, definitivamente, não glamoriza o sexo feminino e na verdade, pelo contrário, mostra alguns tons de machismo, que Hollywood carrega historicamente .
Enfim, “Um Dia de Chuva em Nova York” brinca com os detalhes que podem fazer um dia comum, uma história para vida inteira… aquele tipo de conto que poderia começar com “Aquele dia, mudou minha vida…Chovia muito, eu nunca vou me esquecer …”, quem não tem histórias assim? (com chuva ou não rs). A diferença é que Woody Allen as leva para as telas, com seu dom habitual. Confira nossa Chuck Nota logo abaixo.