Em “Doutor Sono” Hollywood bate novamente a porta de um de seus maiores clássicos
Na infância, Danny Torrance conseguiu sobreviver a uma tentativa de homicídio por parte do pai, um escritor perturbado por espíritos malignos do Hotel Overlook. Danny cresceu e agora é um adulto traumatizado e alcoólatra. Sem residência fixa, ele se estabelece em uma pequena cidade, onde consegue um emprego no hospital local. Mas a paz de Danny está com os dias contados a partir de quando cria um vínculo telepático com Abra, uma menina com poderes tão fortes quanto aqueles que bloqueia dentro de si.
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Doutor Sono é a continuação do cult de terror/suspense ,”O Iluminado” de 1980. O filme adaptado da obra de Stephen King (e detestado por ele), é referenciado até hoje em diversas obras da cultura pop, até nas mais inesperadas como “Toy Story”
Se a tendência em Hollywood é fazer continuações em que as pessoas não precisem ter visto o filme anterior, “Doutor Sono” vai na contramão. É sim, importante, ter visto o filme recentemente ou programar um re-capítula, pois Doutor Sono mergulha fundo na “mitologia” de O Iluminado.
Este filme além de entregar uma resposta sobre o que aconteceu a mãe e filho após fugirem do hotel, também busca esclarecer os tais “poderes” de Danny que são mostrados superficialmente no filme original.
Ewan McGregor funciona bem e traz à tona as frustrações do garoto Danny. Um personagem naturalmente deslocado e perdido com tudo que aconteceu, renegando seu destino. É bem verdade que há pouco tempo para a virada “heroica” de Danny que o longa tenta forçar para seguir sua narrativa.
Eventualmente o filme acaba retornando ao hotel Overlook, para claramente entupir de referências de “O Iluminado”. Cenas inteiras são praticamente reproduzidas com a troca (ou não) de personagens.
Há certa bagunça no que “Doutor Sono” pretende entregar, seja em suas doses cavalares de sobrenatural ou em sua mensagem sobre aceitação, quando as propostas se entrelaçam a certa dificuldade no desenvolvimento do longa.
Assim como algumas teorias do primeiro filme, aqui muitos podem enxergar (com mais razão) que existe um pano de fundo para se abordar pedofilia. Há certamente um duplo sentido na construção da “ameaça” do longa, o que nos leva a crer que esse tema está implícito.
A gangue liderada pela estonteante (comentário repetido a exaustão no próprio filme) Rebeca Furguson (Missão: “Impossível: Nação Secreta“) parece um tipo de banda do Johnny Deep com rituais macabros. Seres imortais que se alimentam de energia humana (crianças de preferência) por séculos, mas que convenientemente, por alguns momentos não demonstram tanta experiência quanto a história prega.
Escolhas que Mike Flannagan (“Ouija: A Origem do Mal”) banca sob alguma desconfiança, mas mesmo assim consegue surpreender com uma direção inteligente. Ao comandar uma história ligeiramente complicada no intuito, Mike se vê no desafio de não entregar todas as respostas de mão beijada. A equipe de Mike também apresenta algumas boas ideias de design de produção, que modernizam o estilo de cores saturadas apresentado em “O Iluminado” .
A produção também tira proveito do conceito sobrenatural para criar cenas que abusam da imaginação e impressionam. Destaque para uma sequência que envolve Rebeca Furguson e uma gaveta.
A trilhas sonora é basicamente uma re-leitura do que foi feito em “O Iluminado”, competente, mas sem novidades.
Enfim, “Doutor Sono” é uma continuação “atrasada”, que parece não fazer sentido num primeiro momento, mas que capricha na técnica e pinça o que há de mais curioso nessa história para apresentar um entretenimento respeitável. Se não deve se tornar um clássico, certamente, Doutor Sono não é um filme que envergonhe o que “O Iluminado” construiu… Confira nossa Chuck Nota logo abaixo…