Lançamento: 01/09/2016
O momento mais difícil do casamento é…? O casamento rs ! Não, brincadeira, segundo Um Namorado Para Minha Mulher a hora mais complicada é aquela de pedir a separação, o que faz bastante sentido (apesar de parecer mais comum hoje em dia) e, é caminhando nos extremos do relacionamento que essa comédia se encontra e se mostra uma surpresa positiva dentro desse cenário mediano do cinema nacional.
Um Namorado Para Minha Mulher é uma adaptação do maior sucesso de bilheteria argentino de 2009, “Un Novio Para Mi Mujer”, de Juan Taratuto. O longa conta a história de Chico (Caco Ciocler) e Nena (Ingrid Guimarães), que estão juntos há 15 anos e vivem uma crise conjugal que parece não ter solução, já que ela enlouquece o marido reclamando de coisas simples da vida. Com o relacionamento por um fio e sem coragem de pedir o divórcio, ele é convencido pelos amigos a tomar uma decisão inusitada: contratar um amante para sua mulher, o exótico sedutor Corvo (Domingos Montagner), para que ela se apaixone e resolva, ela mesma, acabar com o casamento.
O filme parte de uma premissa no mínimo curiosa, e é bom ver o cinema brasileiro tentar algo realmente diferente, “fora de tom”, que causa novsd reações (apesar de ter tido de beber do cinema argentino para isso).
O roteiro encara com certo cinismo o medo de encarar a realidade, joga “tinta forte” nos personagens para ilustrar o momento atual dos relacionamentos. Desde homens frustrados com suas escolhas, a mulheres acomodadas. Uma cena inicial muito bem coordenada pela diretora Júlia Rezende, brinca com a passagem de tempo e como o comportamento do casal vai se alterando diante das mesmas situações, e ali também entra um trabalho diferenciado de tom e paleta de cores que vão se esvaindo junto com a energia dos cansados Chico e Nena.
Um Namorado para Minha Mulher tem design de produção de bom nível, com execução dos cenários em seus mínimos detalhes, além de uma edição inteligente que esconde algumas nuances do roteiro, mais claras nos momentos finais
Ao contrário de boa parte das produções de sucesso do cinema brazuca, essa comédia funciona no time certo, você consegue se envolver num filme de comédia, não num filme COM comédia, o longa aposta na ironia e, principalmente numa Ingrid Guimarães fazendo um tipo mal humorada / afiada, que fala o que boa parte do público pensa, até mesmo sobre as repetitivas comédias nacionais e seus mesmos rostos (dos quais a atriz se inclui).Para essa brincadeira o filme utiliza bem a moda dos canais de Youtube e deixa o diálogo fluir naturalmente, apesar de cometer algumas falhas de adaptação desse mundo virtual, como dar a entender que os programas são gravados ao vivo como um Tv tradicional e utilizar esse artifício para dramatizar a situação.
O roteiro parece correr mais no final para encontrar soluções, o que traz uma reviravolta muito cômoda e pouco sustentada, um jeito fácil de introduzir o pesado e desnecessário melodrama, um problema da maioria absoluta das comédias românticas nacionais que teimam em se transformar em filmes sérios quando estão caminhando de forma leve (mesmo que nesse caso, o drama seja herança do filme original argentino).
Caco Ciocler tem um preparo de personagem diferente, muda o jeito de andar, de falar, e o melhor, não soa ruim, é bastante natural. Fica uma engraçada impressão de ter sido um personagem criado para o Selton Mello, mas interpretado pelo Caco. Também vale a nota o intrigante e divertido Corvo, de Domingos Montagner, que merecia um filme solo, até pelas pontas que se deixa a seu respeito. Uma figura que parece vir de outro filme e estar fazendo um participação especial nesse aqui. Cabeludo, à moda antiga, dirigindo um opalão pelas ruas de São Paulo… Uma ótima chance de criar um “badass” para o cinema nacional.
Enfim, Um Namorado Para Minha Mulher é uma comédia acima da média brasileira, mas ainda contida por alguns vícios e pela necessidade de parecer mais autoral do que precisa ser. Agradável e com boas tiradas, o filme consegue entregar mais do que propõe… Confira nossa Chuck Nota logo abaixo.