Pôster Rainhas do Crime
Pôster Rainhas do Crime

Adaptação de HQ da DC não aproveita potencial da história original

Em “Rainhas do Crime“, na década de 70 o bairro de Hell’s Kitchen é dominado pela máfia irlandesa. Até que um dia três de seus mafiosos são presos pelo FBI, e suas esposas com dificuldades para se sustentar resolvem armar um plano ousado para assumir o comando dos negócios.

Rainhas do Crime” é uma adaptação de “The Kitchen”, título da DC Vertigo (o já extinto selo de histórias adultas da DC). Fato é, que o filme não muda praticamente nada da premissa da HQ, que é muito boa. Porém, também foge do clima de quadrinhos.

Há certa dificuldade de trazer lógica a ascensão das mulheres naquele contexto dos anos 70, quando se tenta seguir uma linha realista demais. Faz falta a estética de quadrinhos para dar a suspensão de descrença necessária a história. “Rainhas do Crime” também não consegue encontrar o tom de como tratar os homens na história para enaltecer as mulheres da forma correta. Por vezes, os homens são tratados como idiotas, por vezes são necessários para dar validade a ação das mulheres, o que soa um pouco incoerente.

Andrea Berloff estréia na direção, ela foi co-roteiristas de filmes como “Straight Outta Compton” e “Herança de Sangue“. Neste longa é possível ver boas intenções de Andrea, que ao menos mantém sua visão até o final. Tenta construir personagens que se entendem através de diferentes sinais de personalidade.

Rainhas do Crime
As três novas criminosas tentando se impor no difícil mundo da máfia.

A equipe da diretora trabalha bem o design de produção dos anos 70, sem cair nos clichês da disco music, ainda que tivesse muito espaço para contextualizar mais a história na época. Também não há abuso de músicas dos anos 70 na trilha sonora pop.

Com uma edição oscilante, por vezes o filme parece um sagaz suspense das ruas de Nova York, como quando mostra a ascensão das gangster em um pequeno clipe ritmado, quase um musical. Mas por outro lado, se perde quando tenta disfarçar pistas sobre uma possível virada (que está visível em uns de posteres do filme, inclusive).

A escolha no mínimo curiosa por duas comediantes para protagonizar o filme de máfia, mesmo que uma delas já tenha sido indicada ao Oscar, mostra certa coragem da produção. Tanto Melissa McCarthy quanto Tiffany Haddish, se esforçam pra entregar o que o filme precisa. Mas o personagem de Melissa nunca sai do meio termo e isso incomoda, num filme que não tem tempo para background. Em nenhum momento ela parece dura o suficiente para liderar um esquema de máfia. Já com Tiffany Haddish, o processo é o contrário. A transformação da comediante numa mulher sensual e de personalidade forte, passa um pouco do ponto. Cai em esteriótipos que podiam ser evitados, como “carões”, balançadas de cabeça, andar exagerado, típicos dos negros de séries de comédia dos anos 90. Pontos que filmes como Infiltrado Na Klan ensinam a trabalhar, e aqui tiram um pouco da seriedade das intenções de sua Ruby O’Carrol. Uma negra no meio de uma família irlandesa, fato que por si só, renderia muitas situações interessantes.

Rainhas do Crime
A excelente Elizabeth Moss como Claire

O destaque fica justamente para a única atriz dramática das três. Não exatamente por isso, mas por seu personagem ser mais bem resolvido. Elizabeth Moss (séries “Mad Men”, “The Handmaid’s Tale”) vive Claire, uma mulher bastante reprimida que vai tomando um gosto quase sádico pelo mundo do crime e aprende a lidar com seus traumas através da violência. Além de ótima entrega de Elizabeth, a personagem é de longe a que mais respeita a alma de quadrinhos da história, uma anti- heroína raiz, imprevisível.

É com Claire que também vemos outra veia da DC Vertigo que não aparece muito no restante do filme. A violência gráfica dos quadrinhos fica restrita a alguns poucos momentos de “Rainhas do Crime“. Esses poucos momentos já são suficientes para jogar a censura do filme lá em cima, então fica a pergunta. Por que não soltar o freio e deixar que vejamos as mulheres realmente “sujarem” as mãos com o crime?

Enfim, “Rainhas do Crime” se coloca na obrigação de entregar uma virada que não consegue esconder por muito tempo, ainda que com resolução mais mirabolante do que se imagina. É um daqueles filmes com um potencial gigantesco e material original rico, que poderia realmente marcar um antes e depois na industria. Mas preferiu ficar seguro no meio do caminho… Confira o trailer e nossa “Chuck Nota” logo abaixo.

OBS: Apesar de ser baseado em quadrinhos, o filme não tem cena pós-créditos.