Vidro Filme Poster

Filme "Vidro"

“Vidro” traz o mestre das viradas de volta, pronto para explodir cabeças

Em “Vidro”, após a conclusão de Fragmentado (2017), Kevin Crumb (James McAvoy), o homem com 24 personalidades diferentes, passa a ser perseguido por David Dunn (Bruce Willis), o herói de Corpo Fechado (2000). Mas o jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price (Samuel L. Jackson), que manipula seus encontros e guarda segredos sobre os dois.

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Quando “Corpo Fechado” foi lançado, o gênero quadrinhos, era de fato um “sub gênero”, relegado aos “Nerds”, tal como o próprio Sr. Glass. Um nicho de pessoas fissuradas, mas poucas. Muito diferente, por outro lado, da máquina de fazer dinheiro que se tornou o mercado onde “Vidro” tenta mergulhar agora.

No entanto, para M. Night Shyamalan essa “explosão” pouco importava na época ou hoje. Shyamalah tomou pra si a ousadia não só de escrever sua própria história em quadrinhos, mas adaptá-la, antes mesmo de ficar conhecida.

Vidro tem estrutura de filme de ação e suspense, pois transita de forma consistente entre momentos de preparação e ápice. Bem como traz sequências realmente eletrizantes e tensas em meio ao clima de mistério que permanece no ar. Mas um dos pontos fortes do diretor nessa trilogia, é como ele consegue equilibrar todo esse peso com ótimas e rápidas tiradas de comédia.

O roteiro e direção de Shymalah brincam com sua percepção ao ponto de te deixar com dúvidas do que realmente viu nos filmes anteriores a “Vidro”. É impressionante como o diretor consegue colocar uma rédea no espectador e levá-lo pra onde quiser. Quando a primeira grande reviravolta é introduzida e pensamos já ter entendido tudo, ele vem e nos faz cair e inverter as coisas pelos menos mais duas vezes. Shyamalan sabe surpreender até mesmo quando ele subverte a surpresa por algo que parece ser óbvio demais.



Durante as cenas de ação, principalmente com Dunn, o diretor usa uma câmera grudada ao corpo do ator. Logo, nos dá uma sensação de gravação com uma “Go Pro”. A imagem chacoalha junto com as trocas de golpes, e o desafio para Bruce Willis e James McAvoy é atuar com foco em expressão durante a ação. E eles o fazem, muito bem. Shyamalah também faz uma escolha muito acertada de não tentar trazer coreografias super elaboradas. Afinal, nenhum dos personagens de “Vidro” é um John Wick ou coisa do tipo. São pessoas comuns, que lutam por impulso, como podem, jogam os adversários contra paredes, dão socos. Definitivamente como seriam se fossem reais.

O design de produção lembra muito (oras vejam), uma história em quadrinhos. Com detalhes  propositalmente excêntricos em ambientes “normais”, para dar aquela sensação de incerteza da realidade proposta pela trilogia. Bem como isso se traduz também nas escolhas de cores dos personagens, que não por acaso estão sempre envoltos nesses tons. Dunn com verde (esperança e vitalidade), Glass com roxo (magia e mistério) Kevin com tons de amarelo (luz, calor, descontração).

Com um elenco de luxo, Shyamalan deixa seus atores soltos  em seu universo com espaços equilibrados. James McAvoy entrega como num teste de elenco as aguardadas personalidades de Kevin. Ainda assim em sua maioria em doses homeopáticas, às vezes uma fala só, porém você finalmente verá todas. Mas não se engane, o personagem “fragmentado” de McAvoy continua sendo focado basicamente nas 5 personalidades dominantes do último filme. De toda forma, McAvoy encara o desafio com muito talento e naturalidade, as transições de personalidades são realmente incríveis.

Corpo Fechado (Vidro)
Samuel L Jackson como Glass em “Corpo Fechado” de 2000, onde tudo começou.

Bruce Willis, reencontra o tom desconfiado e um pouco sofrido de Dunn. Não muito diferente do que ele já fez em outros personagens. Mas ainda assim bem feito, tanto nos momentos em que ele precisa se auto avaliar como “super herói”, bem como nas próprias cenas de ação, que são o ponto forte de Bruce Willis.

O personagem de Samuel L Jackson que dá nome ao filme, à primeira vista, parece estar em segundo plano. Porém, nada mais é do que outro truque de Shyamalan para distrair os espectadores enquanto prepara suas viradas. Glass (Vidro em português) é sim, o personagem que faz esse filme acontecer e Samuel L Jackson não decepciona. Irônico, expressivo e dolorosamente enlouquecido em suas crenças, o “Samuca” é a identidade pura do filme.

O destaque negativo fica para o filho de Bruce Willis, vivido por Spencer Treat Clark. O mesmo menino que fez  “Corpo Fechado” há quase 20 anos atrás. Uma boa sacada do Shyamalan para manter o jeitão de continuação, mesmo com a diferença de tempo. Mas Spencer é claramente um daqueles casos de menino prodígio que deixou de ser menino e tão pouco prodígio. Ele que teve uma sequência que inclui “Gladiador”, “Corpo Fechado” e “Sobre Meninos e Lobo”, há algum tempo não faz nada de grande, e está claramente deslocado em “Vidro”. Para ele são entregues alguns momentos fortes do filme, assim como para outros coadjuvantes ligados ao trio principal, mas Spencer é de longe o que menos entrega os sentimentos propostos. Sem dúvidas uma das atuações mais “esquisitas” dos últimos anos.

Enfim, “Vidro”, tenta deixar claro que heróis podem existir como nos quadrinhos, mas com formas e poderes diferentes, e que é preciso encorajá-los. Tal como Shyamalan provavelmente tomou coragem de retomar sua ideia de trilogia um dia, e se reencontrar com o que há de mais honesto e único na sua filmografia. “Vidro” é um Shyamalan passado a limpo por ele mesmo… Confira o trailer e nossa “Chuck Nota” logo abaixo.

OBS: Não tem cena pós créditos

Nota4 Vidro