Creed II mergulha no passado, para mostrar novamente que a franquia não é apenas sobre boxe
Em “Creed II”, Adonis Creed (Michael B. Jordan) continua sua carreira após a surpreendente luta contra ‘Pretty’ Ricky Conlan (Tony Bellew). O jovem boxeador segue sua trajetória rumo ao campeonato mundial de boxe. Porém, ainda na sombra de seu pai e do treinador famoso, Rocky (Sylvester Stallone), Adonis encontra um desafio que vai além do boxe. Ivan Drago (Dolph Lundgren) ressurge com seu raivoso filho para recuperar tudo que lhe foi “tomado”.
O filme começa pouco tempo depois do primeiro, mostrando como caminha a carreira de Adonis Creed. Do mesmo modo, “Creed II” acrescenta algumas novidades a vida pessoal de Adonis que agora tem relações bem estabelecidas com Bianca (Tessa Thompson) e Rocky.
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Com a saída de Ryan Coogler (“Pantera Negra”) da direção, ficou para o quase estreante Steve Caple Jr, a difícil missão de segurar um spin – off, que nasceu com poucas expectativas, mas conquistou os fãs. “Creed II”, tem um ganho na parte de humor, principalmente, na primeira metade. Algumas piadas se encaixam muito bem e dão uma leveza necessária aos personagens. Nós já conhecemos o lado bonachão do Rocky, mas o lado mais inocente do Adonis, também faz toda a diferença.
Steve também faz um trabalho muito certeiro no design produção, na escolha de cores, mais especificamente. O “mundo dos Drago” na Ucrânia e Rússia é bastante escuro e gélido. Mas isso não se deve apenas ao óbvio clima frio da região, mas sim as escolhas de cores sempre mornas pra compor o cenário melancólico e raivoso em que os Drago se encontram. Fica muito claro também, que Steve Caple Jr não dispensou a experiência de Sylvester Stallone como diretor, para ajudá-lo em algumas cenas.
Creed II se propõe a uma missão de humanizar aquela máquina chamada Ivan Drago. É fato que em “Rocky IV”, pouco se vê além de um atleta com preparo fora do normal, e aparentemente pouca consciência ou opinião própria. O novo filme não desrespeita esse “cânone”. Tudo que conhecemos é reunido num Ivan Drago mais velho e amargurado, que parece ter aprendido a se virar sozinho, por necessidade. Mas continua com um estilo puramente matador e um pouco insano.
O filme deixa a impressão de que Drago passou seu tempo remoendo, tentando reencontrar a glória como uma forma de reconquistar pessoas de seu passado. Do mesmo modo, todo esse preparo do roteiro deixa coerente e até emocionante, o desfecho do arco de Ivan Drago. Há uma sensação de que ele finalmente encontrará respostas para suas angústias. Um toque especial de quem conhece o personagem a fundo, já que o próprio Sylvester Stallone é um dos co-autores do roteiro.
Nesse núcleo, o filme tem algumas referências desnecessariamente literais a Rocky 4. As lembranças sobre o destino de Apollo são inevitáveis, mas estão inseridas de forma muito explicita ou às vezes, simplesmente copiadas. Há momentos praticamente idênticos ao Rocky IV, que podem agradar os fãs, mas realmente não precisavam estar lá. Assim como um certo personagem do passado, que fala duas frases, talvez, e tem atitudes quase de novela mexicana, para justificar algumas passagens de Ivan Drago.
Quando as referências são menos óbvias e o filme mostra identidade, começamos realmente a entender o sentido da saga Creed. A sequência de treinamento no deserto (oposto de Rocky 4 que é no gelo) é um dos grandes destaques. Com uma montagem impactante, lembra os melhores e mais puxados momentos do Rocky no cinema. Principalmente, em Rocky III, quando Rocky precisa se reencontrar com um boxe mais urbano. Adonis Creed treina com equipamentos rústicos, sol rachando e muita pressão, tudo captado com competência pelo diretor. Existem também easter eggs da franquia. Sim, o universo de Rocky tem seus próprios easter eggs, vários, mas repare especialmente em um dos figurinos da Bianca (Tessa Thompson) enquanto assiste uma das lutas.
E por falar nelas, é fato que as lutas já não tão boas quanto as do primeiro filme. A forma como Ryan Coogler entrava no ringue e filmava praticamente sem cortes, é trocada por algo mais convencional. Agora são usadas muitas câmeras dentro do ringue, bem como recursos de câmera lenta nos golpes. As coreografias são boas, violentas como deveriam ser, tem peso, boa edição do som. mas são um pouco repetitivas. Detalhes que não tiram a empolgação dos confrontos, mas com certeza os deixam abaixo do primeiro filme.
Na trilha sonora, Creed II faz apostas seguras, com alguns sons já conhecidos da saga. Esses ganham algumas pequenas modificações por aqui, porém, quando um clássico som toca alto, você vai se pegar com aquela sensação nostálgica de que é hora de lutar.
Vale destacar a atuação fantástica de Michael B. Jordan e Sylvester Stallone. Para Stallone, a naturalidade com que Rocky Balboa renasce a cada filme, é de assustar. Já para Michael B. Jordan, a confirmação de que está se vendo um dos grandes e mais carismáticos atores dessa nova geração. Ele funciona em tudo, na ação, na comédia, no drama, um ator que ainda vai crescer muito. Uma surpresa é Florian Munteanu, que mostra competência com seu Viktor Drago. Um personagem completamente perdido, tentando agradar o pai, que ele mesmo não entende a quem quer agradar. Definitivamente, ao contrário de outros lutadores que estiveram na saga, Florian consegue entregar o esperado. Dolph Lundgren se esforça, mas fica devendo um pouco na parte dramática do Drago, o que teria sido uma “cereja no bolo” para dar um soco no estomago da gente. Mas Lundgren ainda funciona como o velho e impulsivo, gigante russo.
Enfim, “Creed II”, equilibra bem os dramas pessoais e carreira do Adonis com os de Rocky, mas sem inverter o verdadeiro protagonista do filme. O longa também consegue se posicionar como um filme independente, que apesar de ter menções a Rocky 4 (e te exigir a necessidade de ter visto o filme), mostra uma história do Adonis Creed, e um fechamento de arco dele mesmo. Com momentos de dar nó na garganta como só Rocky Balboa sabe proporcionar, “Creed II” é um filme com a essência da saga, mas assinatura muito própria. Uma continuação com razão de existir e que nos faz pensar sobre as verdadeiras razões para lutar… Confira o trailer e nossa “Chuck Nota” logo abaixo.
OBS: O Filme não tem cenas extras (pós – créditos)