Charlize Theron mais uma vez cai da cabeça no projeto e foge de sua imagem de musa de Hollywood, para ganhar mais de 20 quilos e mostrar o qual difícil pode ser a vida de uma mãe de “família feliz”.
Na trama, Marlo (Charlize Theron) é uma mãe de três filhos – um deles recém-nascido – que vive uma vida muito atarefada e exaustiva. Certo dia, seu irmão oferece a ela como presente a ajuda de uma babá para cuidar das crianças durante o período da noite. Mesmo hesitante, ela acaba se surpreendendo com a jovem babá, chamada Tully (Mackenzie Davis).
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A direção de Jason Reitman, de uma filmografia respeitável (“Juno”, “Amor Sem Escalas”, “Obrigado por Fumar”), traz ao filme uma característica de desenvolvimento de personagem muito própria, em poucos movimentos sabemos o comportamento de cada membro da família e como ele afeta a personagem de Theron, uma bela tática de narrativa para que fiquemos curioso com o que leva a tomar decisões.
Tully se apresenta como uma comédia, tem seus momentos desse gênero e todos eles funcionam, porém, apesar de sua piadas visuais e boas tiradas, o filme está mais para uma comédia a serviço do drama, é lá, no drama, que se entende as reais intenções do longa de Jason Reitman, que vem com fortes reflexões relaxadas pelas piadas cotidianas.
O filme dissolve de forma ousada a tradicional “benção de ser mãe” sem apelar para um feminismo desnecessário. É preciso entender também que não se trata de uma mensagem anti – maternidade, mas sim de uma reflexão sobre ela. O drama sobre solidão e frustração é eficiente, e dá alguns punchs no espectador. Chega a dar aflição, fazer uma ligação da vida de Marlo, com o que costumamos ver no dia-a – dia, e perceber como as pessoas exercem esse tipo de pressão sem perceber.
Um aspecto que o roteiro sabe trabalhar para aumentar essa sensação é a relação de Charlize com seu filho, que apresenta alguma síndrome (que o filme não explica, para não tirar o foco), algo que dificulta todo o trabalho da mãe e justifica em grande parte o plot twist, que permanece inconclusivo quase até os últimos minutos, e te envolve numa sequência final bastante intensa e esclarecedora. O uso exagerado de trilha sonora, prejudica muitas cenas que poderiam ter mais peso no silêncio e acabam tendo um acabamento que quebra o clima.
No elenco, Charlize Theron está incrível, mostra sua versatilidade passeando de uma assassina poderosa e habilidosa dos anos 80 (“Atômica”), para uma mãe acima do peso, desestimulada e depressiva aqui nesse filme. Mackenzie Davis (“Blade Runner 2049”) que vive a babá oposta a Marlo, e tem um papel importantíssimo aqui também dá um show de interação com a “veterana”, Charlize.
Enfim, “Tully” é um jogo psicológico bem feito e inesperado, que mostra a depressão em sua forma mais aguda, misturando comédia a um duro retrato do poder por vezes destruídor da rotina. Confira o trailer e nossa “Chuck Nota”, logo abaixo.