Levado ao isolamento de uma tela branca que espera uma pintura, o filme Soundtrack aposta numa mistura longe do regionalismo para brincar com os opostos entre ciência e arte. No Pólo Norte, o fotógrafo brasileiro Cris (Selton Mello) encontra britânicos, chineses e etc de diferentes áreas, forçados à convivência durante a execução de suas atividades.
No filme, Cris (Selton Mello) viaja para uma estação de pesquisa polar, onde pretende realizar selfies para uma exposição de arte. Sua ideia é reproduzir em imagens as sensações causadas pelas músicas de uma playlist selecionada para a experiência. Lá ele se surpreenderá com visões de mundo completamente diferentes, na companhia de quatro cientistas que se dedicam a projetos grandiosos: Cao (Seu Jorge), botânico brasileiro que investiga a flora em situações extremas; o britânico Mark (Ralph Ineson), especializado em aquecimento global; o biólogo chinês Huang (Thomas Chaanhing) e o pesquisador dinamarquês Rafnar (Lukas Loughran). Juntos, eles descobrirão novos pontos de vista a respeito da vida e da arte.
A dupla de diretores identificados apenas como 300ml (um estilo típico do mercado publicitário), consegue entregar seus objetivos quanto a ambientação do longa. O lugar é parte importante do que a história quer contar, e os diretores utilizam bem a noção de distância com uma paleta de cores mínima, com muito branco para dar uma noção de isolamento.Partindo dessa base, Soundtrack transcorre de uma forma um tanto depressiva em determinados momentos, mas que constrói com inteligência a jornada do personagem de Selton Mello.
Uma trilha sonora competente acompanha o bom resultado técnico do longa, que quando vai se aproximando da melancolia em certos momentos é salvo justamente pelo equilíbrio da edição de som, onde todo silêncio é repleto de tensão e um mistério desesperador, que fazem um contraponto bastante interessante.
Com boas ideias, no entanto, Soundtrack sofre com o roteiro e a montagem que atrapalham a “degustação” do filme. O tom adotado pelo filme muda as vezes de forma repentina, e não dão tempo para você se preparar para as cenas de comédia, por exemplo. A transição um pouco abrupta nos coloca numa posição neutra para aguardar as viradas, que aliás perdem força com com a insistência do roteiro em explorar situações parecidas.
Enfim, baseado em ótimas interpretações de nomes como Selton Mello, Seu Jorge (sim, ele é ator, e dos bons) e do britânico Ralph Ineson (Game of Thrones), Soundtrack tenta manter vivo o romantismo da arte através do “sacrifício” do artista, sem muito compromisso com o entretenimento. Para o grande público será um filme “frio” num primeiro momento, que precisa ser pacientemente compreendido para levar ao objetivo final, quase como a própria ideia do protagonista, de que mesmo a paisagem crua do pólo norte pode ganhar novo significado com a música certa, Soundtrack também funcionará se você estiver na sintonia correta com ele. Confira o trailer e nossa “Chuck Nota” logo abaixo.