Essa semana a continuação do surpreendente De Volta ao Jogo, de 2014 (sim, foi com esse nome que lançaram por aqui), finalmente chega aos cinemas com a missão de mergulhar no mundo do amargurado “ex-assassino”, John Wick, e a impressão que fica é que Chad Stahelski e Keanu Reeves entenderam bem o que o agradou o público no primeiro filme e trataram de aperfeiçoar e aumentar tudo.
O filme começa um pouco depois do final do primeiro, com John resolvendo um assunto ainda pendente daquela história, o seu carro. Cena que também serve como apresentação para quem não viu o primeiro filme, que apesar de ter sido uma surpresa de bilheteria, acabou ficando mais conhecido no boca a boca pela internet.
Com seus assuntos aparentemente resolvidos John agora tenta se aposentar novamente, sem sucesso. Ele é forçado a deixar a aposentadoria em função de uma conspiração para tomar o controle de um clã de assassinos internacionais. Motivado por um pacto de sangue, John Wick viaja para Roma com o objetivo de ajudar um velho “amigo” a derrubar um dos membros dessa organização internacional, que tem os assassinos mais bem treinados do mundo.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar é sem dúvida a melhor adaptação de um game que nunca existiu. Isso mesmo, sem ser inspirado num game, o filme consegue reunir todos os elementos que nenhum filme desse segmento conseguiu aplicar direito até hoje. O novo John Wick tem estratégia, fases que aumentam a dificuldade contra o personagem, cenários que viram conforme a ação (como direito a uma homenagem a Bruce Lee), chefões de diferentes estilos que obrigam John a se adaptar ao longo do filme e etc, ou seja, um verdadeiro jogo de ação nas telonas.
O longa tem coreografias espetaculares, criativas, bem pensadas de acordo com o estilo já demonstrado por Wick no primeiro filme, e mantendo a tradição de usar muito judô e armas em meio as lutas. Uma das maiores diferenças de John Wick para outros personagens desse estilo, é que para ele não basta derrubar os adversários e deixá-los desacordados, John elimina todos usando o que tiver em mãos, com a frieza de um assassino profissional. As lutas também apostam um pouco mais no M.M.A moderno, e talvez tragam a mais orgânica utilização do estilo nesses últimos anos. Ainda sobre isso, vale destacar os confrontos de Keanu Reeves com o rapper Common, que acaba se mostrando o inimigo mais ameaçador de John Wick.
Uma das grandes ideias da franquia diz respeito ao Hotel Continental, um abrigo seguro para os assassinos associados, onde nada lhes pode acontecer, e onde regras muito específicas tem de ser respeitadas. A expansão desse submundo dos assassinos mostrado por cima no primeiro filme, é impressionante. O que se vê é um universo muito particular, gigantesco e inesperado, onde as pessoas mais comuns e inofensivas podem esconder a identidade de um super assassino. É como uma mistura de seita com organização criminosa que tem tentáculos em todos os cantos do mundo, o que transforma o filme também num suspense dos mais interessantes, porque estamos descobrindo o modo como os assassinos atuam, principalmente em público, e tudo pode acontecer com John durante as caçadas. Inclusive momentos cômicos que o roteiro trabalha com irônicas sacadas, sempre baseadas na simplicidade com que o mundo em que John está inserido lida com a violência, desde os disfarces, aos serviços especializados nesse “ramo”, com direito a algumas cenas hilárias, como um “discreto” embate nos corredores do metrô.
A aguardada participação de Laurence Fishburne, talvez seja a grande decepção do filme, pois além de curta, não tem nada de especial e nenhuma referência ao encontro dos “ex – matrix”, parece mesmo um truque para chamar atenção do público mais nostálgico. O restante do elenco ainda tem a nova arroz de festa, Ruby Rose, da série Orange is The New Black, que só no último mês já pode ser vista em Triplo X: Reativado (confira a crítica aqui) e Residente Evil 6: O Capítulo Final (confira a crítica aqui). Confesso que fica uma dúvida sobre a atriz, ou ela é muito boa e criou uma vilã que você quer que suma, ou ela é muito antipática e consegue fazer a gente querer que ela suma, a única certeza é que detestamos ela rs. Ian MacShine continua elegante no comando do hotel continental e “conselheiro” do mundo dos assassinos. Keanu Reeves dá uma interpretação muito física para John Wick, mostrando que é possível entregar um personagem bem construído em filmes de ação. John não tem um andar muito fluido, parece sentir o peso de seus anos envolvido com complexas missões de assassinato, a voz é embargada, cansada e o olhar parece sempre desconfiado e variavelmente raivoso. Sem dúvida um dos melhores trabalhos da carreira de Keanu Reeves (que sempre sofreu com os críticos).
Enfim, com a ajuda de uma equipe de montagem que joga a favor do dinamismo do filme, e uma edição de som que brinca com o silêncio e os sons crus que a violência mais realista emite, John Wick: Um Novo Dia Para Matar mostra o amadurecimento da franquia e do diretor Chad Stahelski, até então estreante, que consegue entregar com perfeição tudo que se esperava dessa continuação e ainda estabelecer um “cânone” muito próprio, no qual deve se basear o terceiro da franquia e a possível série de TV (saiba mais aqui). Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo…