Demorou cinco anos, mas Hollywood deu um jeito de fazer Harry Potter voltar a movimentar os cinemas. Dessa vez, foi a própria J.K Rowling que assumiu o roteiro da empreitada (que já tem quatro continuações confirmadas). Animais Fantásticos e Onde Habitam, mostra em mais aventura pelo mundo mágico de Harry Potter que, apesar da ânsia dos fãs para continuar nesse universo, e da “boa vontade” do estúdio, talvez a laranja já tenha sido espremida o suficiente.
Animais Fantásticos e Onde Habitam começa em 1926, quando Newt Scamander (Eddie Redmayne) acabara de concluir uma exploração mundial para encontrar e documentar uma extraordinária variedade de criaturas mágicas. Chegando em Nova York para uma breve escala, ele poderia ter passado por ali sem qualquer incidente… se não fosse por um Não-Maj (o nome americano para “Trouxa”) chamado Jacob, uma maleta mágica extraviada, e a fuga de alguns dos animais fantásticos de Newt, que poderiam causar problemas para os mundos dos bruxos e o dos Não-Maj.
O filme começa bem, apresenta os tais animais de uma forma divertida, através de uma simpática versão mágica do ornitorrinco. Ele também acerta um tom de comédia leve e bastante inocente, até mais competente na hora tirar risos do que os próprios filmes originais de Harry Potter.
E por falar nele, apesar de fazer parte do mesmo mundo, o filme se passa bem antes da saga original, e exceto por uma ou outra menção, e a direção característica de David Yates, Animais Fantásticos não tem nenhuma grande conexão com a saga original, facilitando a vida das pessoas que não assistiram os filmes dos bruxinho. Para completar essa intenção, o longa se explica o tempo todo. O padeiro Kowalski, personagem de Dan Fogler, claramente é a ponte para essas explicações, sempre encantado e assustado ou, até mesmo, com perguntas diretas sobre os assuntos mais complexos, dando o gancho para os esclarecimentos que a produção acredita que o espectador precise.
Em termos de visual, Animais Fantásticos segue a linha de efeitos impecáveis da franquia, sempre de muito bom gosto e finalizados com perfeição. Já a imersão 3D, melhorou em relação aos últimos filmes da série, há profundidade e várias interações realistas e divertidas, que não são gratuitas, fazem parte e contribuem para o contexto das cenas.
O elenco conta com grandes nomes (e ainda deve ter acréscimos de peso nos próximos). O ótimo vencedor do Oscar, Eddie Redmayne as vezes parece não relaxar, está sempre atuando intensamente, criando tiques e posturas que até lembram seu personagem mais famoso (Stephen Hawking), quando o filme parece pedir apenas a naturalidade do personagem. Colin Farrell (O Vingador do Futuro) que vem acumulando fracassos, entende o personagem e entrega uma atuação surpreendentemente convincente.
Mas quem rouba a cena mesmo, é Dan Fogler, com seu engraçado “sidekick” humano tentando entender o mundo mágico e secreto.
Fica claro que JK Rowling deixa pontas propositalmente soltas para as continuações (que já tem até vilão confirmado, veja aqui), e isso atrapalha a narrativa em perguntas básicas, como as motivações do protagonista ou do vilão. Falta a Animais Fantásticos ser efetivamente episódico, arrendondar essa história primeiro, antes de pensar na próxima. Mesmo a boa plot twist sobre o vilão, sofre com esse olhar mais preocupado com os
próximos longas.
Enfim, em determinados momentos, Animais Fantásticos e Onde Habitam parece entrar num loop infinito que envolve animais que fogem, destroem coisas e o dono as reconstrói. Um recurso que a princípio funciona, lembra até o muito o estilo de aventura do Pokémon, mas com a diferença de que aqui a pokebola é uma mala, os pokémons são menos carismáticos (de forma geral), e essa repetição de estrutura cansa bastante num filme de mais de duas horas. Com a missão de expandir a franquia, Animais Fantásticos e Onde Habitam se contenta em apenas encher os olhos dos fãs com cenas de aventura repetitivas, e uma frágil promessa de novidades do mundo de Harry Potter. Confira nossa Chuck nota, logo abaixo…
