Lançamento: 21 de julho de 2016
Depois de mais de 30 anos longe das telonas (em versão Live Action), o rei das selvas está de volta aos cinemas, mas parece ter passado todos esses anos na academia.
Em A Lenda de Tarzan, passaram-se anos desde que o homem conhecido como Tarzan (Alexander Skarsgård) deixou as selvas da África para trás para levar uma vida burguesa como John Clayton, Lorde Greystoke, com sua amada esposa, Jane (Robbie) ao seu lado. Agora, ele é convidado a voltar ao Congo para servir como um interlocutor comercial do Parlamento, sem saber que na verdade ele é uma peça usada em uma ação de ganância e vingança, organizada pelo belga Leon Rom (Christopher Waltz). Porém, as pessoas por trás dessa trama assassina não fazem ideia do que estão prestes a desencadear.
Há uma reformulação quase total do Tarzan que conhecemos. Alexander afirmou que tentou ficar alheio a outras interpretações e entregar uma nova leitura do personagem criado por Edgar Rice Burroughs. De fato, não só ele, como o roteiro entregam um novo Tarzan, baseado na mesma lenda. Esse Tarzan soa muito mais “letal” do que todas as suas versões anteriores, praticamente um “Batman da floresta”, extremamente forte e habilidoso, impulsivo, mas civilizado. É uma grande jogada da nova produção começar do ponto em que Tarzan já não vive na selva e sim como um nobre inglês, uma vertente da história muito pouco explorada até hoje (há algo próximo no filme Greystoke: A Lenda Tarzan, com Christopher Lambert). A origem amplamente conhecida de como John Clayton se tornou Tarzan é contada em flashbacks que lembram muito a linha usada no filme O Homem de Aço .
Quase todos os elementos do chamado “cânone” do Tarzan estão lá. Cipó, grito (esse gera uma boa piada interna no filme), exceto pela Chita que pelo menos não é citada assim.
O filme traz ótimas cenas de luta, principalmente, o confronto entre Tarzan e seu irmão macaco. Cheia de ataques selvagens e bem marcados, tudo muito divertido, mas sem efeito nenhum para a narrativa do filme, diga-se de passagem.
Entre as as boas cenas de ação, muitas se aproveitam das mesmas soluções visuais da animação da Disney de 1999. A fotografia tenta simular um vídeo game por muitas vezes, o que injeta mais de adrenalina nas sequências, enquanto Tarzan se aventura pela gigantesca selva. É tudo veloz, mas você consegue ver com clareza, principalmente pela imponência que o Tarzan (ou sua representação em C.G.I ) tem em cena.
A ferocidade das sequências também se deve a boa trilha sonora, que mistura um pouco de épico com selvagem e estilos de sons africanos encorpados com clássicos.
O elenco estelar vem com o ótimo Christopher Waltz (007 Contra Spectre) que repete alguns trejeitos dos vilões que fez recentemente. Samuel L Jackson surge como um (bom) alívio cômico no filme, um tipo de Robin para esse Tarzan/Batman. As situações inexplicáveis pelas quais Jackson passa ficam ainda mais engraçadas diante de sua incredulidade, que reproduz possivelmente o que sentiríamos na cena. O casal de protagonistas, Tarzan e Jane, têm química e bom equilíbrio, além de terem uma imagem covardemente cinematográfica ( traduzindo, são bonitos, é preciso admitir rs). Alexander Skarsgård se esforça para mostrar um novo Tarzan e encontrar o peso certo entre o selvagem e o civilizado. É verdade que talvez você termine o filme sem comprar tanto o Tarzan selvagem. Já Margot Robbie não nega seu posto de queridinha de Hollywood. Ela que vem esse ano como Arlequina (leia aqui), consegue se adaptar a proposta um pouco mais leve do roteiro que não exige nenhuma interpretação mais intensa e faz uma Jane mais parecida com o que imaginamos normalmente (doce, defensora da floresta e bastante esperta).
Os efeitos especiais que reproduzem os gorilas são excelentes, no nível da franquia Planeta dos Macacos, realistas e ameaçadores, reforçados com uma interação perfeita entre a bonita floresta também criada quase 100 % em C.G.I . Na contramão desses pontos fortes dos efeitos do filme, temos alguns verdadeiros “defeitos especiais” com cenas de fundo verde muito artificiais, desproporcionais aos atores e sem acabamento ou atenção aos detalhes (repare como o cabelo do Tarzan não “balança ao vento” em determinados momentos rs). O filme também carrega a mão no final e exagera, tanto quando diz respeito ao “poderes” do Tarzan sobre os animais da floresta, quanto sobre a cena mesmo. Grandiosa demais, ela acaba expondo os fraquezas técnicas do longa.
Enfim, A Lenda de Tarzan tem algum trabalho politico de pano de fundo, mas em suas raízes é um filme dos mais simples. É velha e boa busca do herói por sua donzela em perigo. As subtramas até atrapalham um pouco a simplicidade do longa, num típico caso onde menos é mais. Mas enquanto alguns se preocupam a mensagem oculta, esse Tarzan “badass” desliza pela floresta chutando traseiros de quem lhe tira sua Jane e diverte os fãs de ação e aventura que já esperavam por uma versão atualizada do Tarzan há tempos. Confira nossa Chuck Nota logo abaixo…