Estréia: 12/05/2016
Certos filmes infelizmente passam pelo nosso radar e só vamos descobrir lá na frente e nos perguntar “como não vi isso antes”. Vocês bem sabem que aqui no Has Tela Vista sou totalmente contra aquele discurso pseudo intelectual de crítica de cinema que demoniza os blockbusters e só dá valor para filmes de festival, até porque nós sabemos que o público quer mesmo é se divertir no cinema, mas uma verdade é que possível se divertir no cinema com filmes menores, sem efeitos especiais e etc. Longas como Little Miss Sunshine já nos provaram isso e esse novo Memórias Secretas é uma dessas boas surpresas de “pouco orçamento”.
O drama de suspense conta a história de Zev (Christopher Plummer) e seu melhor amigo Max (Martin Landau), que compartilham o passado aterrorizante da crueldade nazista na Segunda Guerra Mundial e o mesmo teto numa casa de idosos nos Estados Unidos, onde refizeram suas vidas longe das dolorosas memórias do passado. Quando Max acredita que descobriu a identidade do guarda responsável pela tragédia de suas famílias há cerca de 70 anos, os dois traçam um ousado plano de vingança.
O filme tem ótimos diálogos interpretados com maestria pelo elenco de peso, um mix de veteranos encabeçados pelos espetaculares Christopher Plummer (Uma Mente Brilhante) e Martin Landau (Ed Wood) que se aproveitam da boa direção do indicado ao Oscar Atom Egoyan (O Doce Amanhã), para entregar atuações acima da média.
Aliás vem da relação bem construída entre os dois veteranos todas as nuances discretas do roteiro que só vamos notar mais próximo do final, quando você fizer o seu próprio “recapitula”.
O filme é mais um dos que bebem da fonte das ricas histórias sobre o nazismo, sejam elas realmente baseadas em fatos reais ou nas várias teorias criadas sobre os seguidores de Hitler. Verdade é que há uma diversidade de acontecimentos e visões que ainda torna cada obra única. Memórias Secretas é um bom exemplo de como trabalhar as milhares de possibilidades, ao pegar as lembranças de apenas dois personagens desse capítulo lamentável da história, já foi recontado tantas vezes e construir algo totalmente novo e fresco para um público já acostumado com filmes sobre a Segunda Guerra.
O roteiro é competente e te leva por uma trama de vingança e suspense com toques de comédia (humor negro para ser sincero) te preparando para o que tem por vir. A trama parece simples, e de fato é, apesar de ter um baita plot twist (virada) a complexidade da história está mais em entender as motivações dos personagens do que entender suas atitudes em si, o bom trabalho de edição favorece a montagem desse quebra-cabeças, inclusive.
De forma muito sútil o filme trata da intangibilidade da vingança como artifício de satisfação pessoal. Zev faz uma lista de pessoas que tem o mesmo nome do tal guarda e cada pessoa errada que ele encontra representa uma nova história sobre o mesmo período, o que mostra como dores e lembranças sobre um mesmo acontecimento podem variar de acordo com os objetivos dos personagens que a viveram.
O fato do personagem de Christopher Plummer sofrer de uma amnésia recorrente, que o faz redescobrir a morte de sua família quase que diariamente (um tipo de Como Se Fosse a Primeira Vez do mal), também revela as intenções do filme de jogar com o sentimento do espectador em relação a dificuldade de desapegar do passado e viver o futuro (ou o presente no caso do personagem já abatido de Plummer).
Enfim, Memórias Secretas é um daqueles filmes que desperta interesse quase a todo momento, mas em seu ato final é que arrebata de vez. Depois de alguns minutos de silêncio você com certeza sai com aquela sensação de ter sido surpreendido, de ter encarado uma história forte e bem contada. Não é um “feel good movie”, seu astral não vai lá no alto, mas terá a certeza de ter visto um grande filme… Confira a Chuck Nota logo abaixo…