Lembro de ter visto a primeira cena desse filme e ter ficado realmente impressionado com a tensão da sequência (no canil). Repleto de plot twists, o filme tem algumas nuances realmente interessantes, e caminha por outro caminho do cinema nacional, algo um pouco mais criativo que talvez encontre mais dificuldades no lado comercial (bilheteria).
Em Mundo Cão (Santana) é um funcionário do Departamento de Combate às Zoonoses que trabalha recolhendo cachorros perigosos das ruas, na época em que a lei que proíbe o sacrifício de animais sadios ainda não havia sido sancionada. Avesso a confusões, ele leva uma rotina tranquila com sua esposa e filhos até o dia em que seu caminho se cruza com o de um rottweiler. Por um mal-entendido, o dono do cão, Nenê (Lázaro Ramos) se indispõe com Santana e suas atitudes vão alterar completamente a vida dele e de sua família.
O filme aborda a violência urbana de uma forma bastante crua, mais especificamente o stoppin de certos confrontos e como algumas brigas começam com uma faísca e crescem sem que as pessoas se recordem de seu início. Uma síntese da falta de paciência das pessoas nos dias de hoje.
Com alguns bons truques o diretor Marcos Jorge (Estômago), engana e distrai o espectador para dar algumas viradas relativamente bruscas na história, os chamados plot twists que, após o primeiro, criam um jogo de tensão na expetativa por novas reviravoltas ou simples conclusões de situações difíceis de prever. A edição não é das mais criativas, usa alguns artifícios bastante básicos, o que não chega a ser um problema já que dessa forma facilita a narrativa do filme.
Boa parte do resultado final é dependente do bom elenco, que traz Lázaro Ramos, Babu Santana (Tim Maia) e Adriana Esteves. Os três interagem com a história de forma muito orgânica, Lázaro constrói um antí – herói mais voltado para os vícios (futebol e cães), do que para a convivência social. Enquanto Babu e Adriana apresentam um família inacreditavelmente real com a colaboração dos atores mirins Thainá Duarte e Vini Carvalho.
A segunda metade, porém, não acompanha as boas sacadas da primeira. O filme perde o ritmo fortemente em um determinado momento e chega até a ficar repetitivo e intricado, causando certa confusão em suas lógicas e intenções iniciais.
Enfim, a virada final também carece um pouco de coerência, mas causa o impacto esperado (e provavelmente desejado). Com um bom ponto de partida, Mundo Cão se aproveita de seus choques e bom elenco para prender nossa atenção e talvez encontre seu caminho nas bilheterias entre o público que não consegue se habituar muito com as comédias globais que dominam o cinema nacional. Confira nossa Chuck Nota logo abaixo…