E a temporada de apostas já começou com diversos lançamentos que chegam esse mês aos cinemas. Já vimos Spotlight: Segredos Revelados forte candidato a premiações no Oscar, o filme é baseado em fatos reais.
O drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que é desafiado e reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças por padres da igreja católica. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelos crimes.
A plot escolhida com certeza não vai ganhar um “curtir” da igreja católica. Historicamente polêmicos os casos de abusos sexuais por parte dos padres não são bem o centro do filme, o foco está na equipe de jornalistas investigativos e sua forma de se relacionar com um tema tão delicado. O roteiro amarra um clima de suspense e leve tensão, enquanto mostra a força de influência da igreja católica dentro da comunidade, quase como um ser onipresente que parece estar entranhado em cada setor da sociedade para reforçar um esquema quase sem furos de acobertamento dos casos. A construção do personagem Baron, vivido por Liev Schreiber, define bem a linha do longa, que desde de sua primeira aparição, nos apresenta que era preciso um pensamento diferente para desvendar o esquema, fazendo o pararelo com o próprio filme, que encontra um forma também acima linearidade para contar essa história e deixar o filme “suportável” para os espectadores mais sensíveis, que costumam ter problemas com longas de tema forte.
Spotlight: Segredos Revelados realmente acerta em não se aprofundar nos casos em si, mas sim na investigação. A narrativa cumpre esse papel ao nos preparar para os plot twists sem brincar com a nossa inteligência. O filme tem uma linguagem bastante televisiva, o que é outra boa sacada, foge da estética documental e lhe acrescenta algum a personalidade. São muitos close-ups, “quebra – cabeças” de casos (como as séries de TV) e uma edição que não inventa muito, e assim não dificulta o entendimento do espectador, apenas o prende a história.
Uma das categorias onde mais se aposta em Spotlight: Segredos Revelados para o Oscar desse ano é a de ator coadjuvante, onde muitos dão como certa a indicação tanto de Michael Keaton quanto de Mark Ruffalo (se os dois são coadjuvantes a pergunta que fica é, quem é o personagem principal?). Michael Keaton apresenta uma atuação mais contida, sem arestas e com a entrega necessária, já Mark Ruffalo (O Hulk dos Vingadores) surge como um forte candidato mesmo, o ator claramente fez um processo de imersão e construção de personagem bastante detalhado, cheio de trejeitos, sem em nenhum momento parecer excêntrico. É sempre um chamariz ver sequências com o personagem Rezendes de Ruffalo. Além deles tem o Stanley Tucci na pele do advogado Garabedian que luta contra o sistema imposto pela igreja praticamente sozinho, um personagem essencial para trama e muito bem fechado pelo eterno coadjuvante Tucci.
Há um certo exagero no uso de trilha sonora, as vezes se faz presente sem necessidade, forçando a transição para o estilo televisivo. Algumas distrações no roteiro também poderiam ter sido evitadas como uma rápida e perturbadora “explanação lógica” de um padre pedófilo, uma das pequenas pontas que o roteiro solta no ar sem finalizar ou mostrar qualquer utilidade para o resultado final.
Enfim, alheio a essas distrações, não há como tirar os méritos de Spotlight: Segredos Revelados como um competente drama de suspense e do diretor Tom McCarthy que traz um filme consistente com início, meio e fim bem definidos. Spotlight tem características muito apreciadas pelo Oscar e de fato deve ser um dos concorrentes. Ainda não consegui ver muitos dos candidatos, mas ao que tudo indica, e pessoalmente pelo que vi até agora… se segura igreja porque o filme vai aparecer lá…Confira nossa Chuck Nota logo abaixo…