Este dia 14 estréia no Brasil uma das “grandes apostas” para o Oscar 2016. A Grande Aposta é baseado em fatos reais, carregado de humor negro e uma sensação “perigo iminente”, já surge com certeza como uma das melhores produções desse ano, um filmaço, fortíssimo candidato a temporada de premiações.
Em A Grande Aposta, Michael Burry (Christian Bale) é o dono de uma empresa de médio porte, que decide investir muito dinheiro do fundo que coordena ao apostar que o sistema imobiliário nos Estados Unidos irá quebrar em breve. Tal decisão gera complicações junto aos investidores, já que nunca antes alguém havia apostado contra o sistema e levado vantagem. Ao saber destes investimentos, o corretor Jared Vennett (Ryan Gosling) percebe a oportunidade e passa a oferecê-la a seus clientes. Um deles é Mark Baum (Steve Carell), o dono de uma corretora que enfrenta problemas pessoais desde que seu irmão se suicidou. Paralelamente, dois iniciantes na Bolsa de Valores percebem que podem ganhar muito dinheiro ao apostar na crise imobiliária e, para tanto, pedem ajuda a um guru de Wall Street, Ben Rickert (Brad Pitt), que vive recluso.
A primeira grande constatação do filme é que o diretor não tenta disfarçar as liberdades que toma para contar a história, pelo contrário, ele chega ao ponto de colocar uma cena onde simplesmente um dos personagens vira para a câmera e diz que aquilo não aconteceu bem daquele jeito, uma forma genial de fazer o público não se preocupar com os detalhes do livro e sim focar na construção do cinema em cima dele.
Uma das grandes dificuldades de se fazer um filme sobre o mercado financeiro é que o público comum não entende bulhufas dos termos usados (quando digo público comum, estou englobando todo mundo, seja ensino básico ou superior, o mercado financeiro é bastante complicado de se entender). E nesse momento entra outra sacada espetacular, o longa usa de diversos artifícios, metáforas e metalinguagem para explicar os termos de forma muito didática. Os inserts são hilários e nada sútis, como a pequena participação da futura Arlequina e musa de Hollywood, Margot Robbie.
A narrativa constrói com competência todo o cenário de crise que estava por vir nos Estados Unidos e como ele explodiu respingando no mundo inteiro, com traços de extremo realismo, inclusive para mostrar que, como de costume, a corda estouraria do lado mais fraco. Um dos melhores dramas de A Grande Aposta está em como os “apostadores” devem se sentir por estarem apostando numa possibilidade de que levará milhões de pessoas aos desemprego e a pobreza, algo muito bem representado pelos dilemas éticos do personagem Mark de Steve Carell.
O roteiro traz diálogos excelentes com altas doses de ironia acompanhadas pela trilha sonora incomum, outro artificio inteligente para mostrar a situação atípica que os personagens estão prestes a viver.
Impossível não lembrar de O Lobo de Wall Street, outro filme extremamente ágil com essa temática, mas A Grande Aposta ainda consegue ser mais ousado em alguns sentidos do que o primo rico dirigido por Martin Scorsese.
O elenco, não por acaso, aparece como uma das cartadas do filme para o Oscar. O time de apoio tem muita qualidade e conta com a participações de luxo de Brad Pitt e Ryan Gosling, mas o destaque fica mesmo para as duas peças principais do longa. Christian Bale pra variar, está impressionante. Falem o que quiser do comportamento dele nos bastidores, mas o cara sabe atuar e construir personagens como poucos. Dá gosto ver o Bale na tela em A Grande Aposta, brincando num personagem quase autista, cheio maneirismos. Por outro lado, Steve Carrell entra para o time de comediantes como Robin Williams, o time de comediantes que sabem atuar em qualquer papel, se ano passado Carrell estava irreconhecível em FoxCatcher, este ano não há mudanças físicas, mas sim um estilo de interpretação próximo do humor não proposital, com um olhar sempre muito concentrado Steve tem algumas das melhores cenas do filme, principalmente quando está tentando entender a lógica da futura crise, que aos poucos lhe parece tão óbvia, mas tão distante dos profissionais do mercado.
Enfim, A Grande Aposta dá uma visão quase definitiva sobre a crise americana de 2008, ao mesmo tempo que apresenta também uma visão quase definitiva do que pode ser um bom caminho para o cinema moderno. Cheio de alto referências, piadas rápidas, formas inovadoras de se explicar a plot sem desencorajar o expectador a pensar…Uma super estréia de janeiro, indispensável… Ano passado só dois filmes ganharam essa nota, Birdman e Divertidamente, um foi o vencedor de melhor filme do Oscar de 2015 e o outro, favoritíssimo a melhor animação desse ano… Será que acerto com a A Grande Aposta?? rs Confira a Chuck Nota logo abaixo…