Estréia: 02/06/2016
Hoje estréia aquele que é considerado a grande esperança de uma adaptação definitiva de games para as telonas. Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos é inspirado no jogo de estratégia em tempo real lançado pela Blizzard Entertainment em 1994 (Warcraft:Orcs & Humans), o filme mostra o pacífico reino de Azeroth à beira de uma guerra. Quando sua civilização enfrenta uma temível invasão de guerreiros Orcs – que fogem do território para colonizar um novo lar –, um portal se abre para conectar esses dois mundos: um exército se vê cara a cara com a destruição e o outro, com a extinção. De lados opostos, dois heróis são colocados em um caminho de colisão que irá decidir o destino de suas famílias, seu povo e seu lar.
O filme já começa com os Orcs se preparando para invadir a terra, não há perda de tempo com grandes introduções, num primeiro momento a narrativa é simples e direta, o que é agradável. O universo de possibilidades que nos é apresentado, mesmo que de relança, é intrigante, vemos muitos cenários que despertam curiosidade sem ser aprofundados, quase como easter eggs. O visual fiél deve agradar os fãs do jogo, e uma ou outra cena vai levá-los diretamente a experiência que tiveram em suas casas, como uma sequência de batalha filmada por cima, com seres espalhados por toda tela.
Porém, com passar do longa, Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos se mostra um pouco apressado em suas ideias, o filme parece “desesperado” para agradar os fãs e assumir o tal posto de melhor adaptação de games. É nesse momento também que percebemos que o roteiro está preocupado demais em preparar terreno para os próximos filmes “poluindo” o longa, ao invés de arredondá-lo com explicações mínimas para um bom aproveitamento do longa. É preciso sempre colocar que uma adaptação tem funcionar por si só, se é preciso ser um especialista no material original para curtir o filme, esse já falhou miseravelmente.
Alguns pontos da trama como a real participação do Guardião (Mediv) com a guerra, a relação de similaridade e antagonismo entre o Orc, Durotan e o humano Lothar que é vendida na sinopse e até mesmo o clima de rivalidade entre Orcs e humanos são tratados muito superficialmente e não trazem o peso que poderiam.
Na contramão tudo que envolve o Orcs é muito divertido, suas batalhas, sua organização social, seus códigos de honra e etc, são figuras bem apresentadas em diversos sentidos. Até porque uma das maiores bandeiras de publicidade do filme era entregar os seres fantásticos mais realistas do cinema. Não há como negar que Warcraft cumpre a promessa e traz esses personagens para o público num nível altíssimo. Eles são imponentes, extremamente intimidadores e se aproveitam do bom desenvolvimento da tecnologia de captura de movimentos, aqui representada pelo ator Tobby Kebbell que também já fez um grande trabalho nesse estilo como o vilão Koba da franquia Planeta dos Macacos.
No entanto ficou a impressão de que investiram 90% do orçamento nos caríssimos efeitos visuais para desenvolver os Orcs e o restante esperaram que passasse despercebido. O C.G.I do filme chega a ser constrangedor em alguns momentos tamanha a artificialidade, mesmo se esforçando muito, é impossível acreditar que o elenco realmente esteja naqueles cenários por causa do contraste absurdo. Guardadas as devidas proporções, na sessão em que eu estava eu ouvi gente sussurrando “estilo 10 Mandamentos da Record” e não pude lhes tirar a razão, o que é inaceitável para um filme desse tamanho.
As cenas de luta, tem altos e baixos, sofrem com as indecisões do diretor Duncan Jones que a cada hora filma de um jeito, mas acabam se sustentando embaladas por uma boa trilha sonora e pela diversidade de estilos de luta dos Orcs, competentemente apresentada.
Essa direção totalmente perdida de Duncan Jones (Lunar) deixa tudo muito previsível. Existem pelo menos 3 viradas interessantes que são entregues com uma antecedência desnecessária, não pelo roteiro, mas pela forma como Duncan o desenvolve e por sua direção de elenco ruim que permite os personagens se revelarem suas reais intenções com muita facilidade… Problemas elevados ao quadrado pelas escolhas de edição e montagem. É impressionante como quase todas as cenas que começam a nos empolgar são cortadas abruptamente para outro núcleo. Um truque de expectativa que pode funcionar uma ou duas vezes, mas que se torna irritante quando utilizado o filme inteiro (como nesse caso), você simplesmente se cansa, não consegue mais se deixar divertir com as cenas mais épicas, porque não há um continuidade nelas e inconscientemente você já sabe disso.
O elenco é composto basicamente por nomes que ainda cavam seu espaço em Hollywood, aquele chamado time B, liderado aqui por Travis Fimmel (série Vikings) e Paula Patton (Missão Impossível: Protocólo Fantasma) nos papeis de Lothar e Garona, ambos esforçados e até carismáticos, mas com atuações muito abaixo da carga dramática que o filme exige em determinados momentos. Fora dessa curva temos Ben Foster (Assassino à Preço Fixo) que está surpreendentemente alinhado com seu Guardião Medivh, um personagem importante para o contexto da história, que também sofre com os óbvios caminhos apontados por Duncan Jones.
Enfim, Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos é com certeza um filme feito por gente que conhece o jogo, me arriscaria até a dizer que feito por fãs efetivamente, e isso inclui o mesmo Duncan Jones que eu critiquei nesse texto. Nota-se o esforço, nota-se a preocupação com o legado que os fanáticos por WOW querem ver retratado nos cinemas. algo que deve anestesiá-los como fãs – pelo menos por um tempo-. Mas será que será insuficiente para o público médio em busca de uma boa fantasia medieval, que já estabeleceu parâmetros altos com Senhor dos Anéis e Game of Thrones. Muitas questões podem ser discutidas, e levar a conclusões diferentes, mas uma certeza é que apesar da torcida (inclusive a nossa) esse Warcraft, definitivamente, não é o filme que vai elevar as adaptações de games a outro nível, menos ainda fazer o jogos virarem a nova moda do cinema… Confira nossa Chuck Nota logo abaixo…