E quando muita gente achou que o filme nem veria mais a luz do dia, depois de passar por Christian Bale e Leonardo di Caprio, Steve Jobs finalmente foi lançado com Michael Fassbender na pele no polêmico e inspirador criador da Apple.
O filme conta três momentos importantes da vida do inventor, empresário e magnata Steve Jobs: os bastidores do lançamento do computador Macintosh, da empresa NeXT criada após sua saída da Apple, e do I Mac em 1998 no seu retorno triunfal a empresa.
Steve Jobs lembra um teatro em sua estrutura, tem pouco foco em produção e detalhes de cenário, por exemplo, o filme deve ter no máximo uma cena externa, as atuações são o centro, principalmente nos diálogos. Os diálogos escritos por Aaron Sorkin (A Rede Social) são bem trabalhados e em geral criam até certa tensão, o filme poderia, inclusive, ganhar muito com um estilo mais parecido com Birdman, marcado por muitos planos sequência, que ajudariam a dar mais ritmo e fluidez aos acontecimentos.
A forma de contar a história é totalmente atípica dos filmes ditos como biográficos, ao contrário do filme anterior com Ashton Kutcher, de 2013, esse Steve Jobs não segue aquele estrutura básica de mostrar a trajetória de infância a fase adulta. O longa já abre com uma cena intrigante de um debate de Steve Jobs com seus funcionários sobre uma questão muito importante (para ele), fazer o Mac falar um “olá” durante a apresentação, e toda a introdução do filme bate nessa questão simples que em poucos diálogos pode resumir parte da personalidade de Steve jobs… gênio, brilhante, criativo, detalhista. anti – ético, excêntrico, teimoso e por aí vai, o longa fica por trás das cortinas dos grandes lançamentos da vida de Steve Jobs, sem jamais mostrar o desenvolvimento no palco, a ideia é justamente mostrar um pouco do homem por trás do mito criado pelos fãs, esse que o esperavam no palco como um astro do Rock em todas as sua empreitadas.
O diretor Danny Boyle dos premiados Quem Quer Ser Um Milionário e 127, tenta desvendar Jobs através de suas atitudes sob pressão que se confundem com suas conturbadas fases pessoais, representadas aqui numa “estranha” relação com a filha Lisa.
Steve Jobs não é um filme “chapa branca”, apesar de mostrar um invejável lado criativo e detalhista do co – fundador da Apple, o longa faz questão de dar alguma alfinetadas no estilo “Applemaniaco”, o Steve Jobs mostrado está longe de ser um herói carismático, ou pronto para conquistar o público do cinema, assim como ele parecia ser para os seus mais próximos. Essa falta de empatia com Jobs somada a falta de semelhança com Michael Fassbender, se torna um problema durante o desenvolver da história, pois nem sempre suas aparições são tão aguardadas pelo espectador.
O elenco obviamente é primordial, qualidade não falta, mas outra prova de que o filme segue uma estrutura de teatro está na caracterização dos personagens. Não houve a mínima preocupação em deixá-los parecidos com os personagens originais, o que também pode confundir os público que vai querer ver uma experiência de biografia no cinema.
Michael Fassbender mantém um padrão, o talentoso ator aproveita da diferença física para também tentar construir um Steve Jobs diferente dos retratados em outros filmes (ou mesmo do vendido na imprensa) é com certeza uma boa atuação, mas não o coloca como um dos favoritos ao Oscar desse ano (se comparado aos concorrentes), outro que vai muito bem é Jeff Daniels, sim o mesmo de Débi e Lóide, que por incrível que pareça exceto por Débi e Lóide 2, há tempos já partiu para trabalhos mais dramáticos. Uma cena de confronto num saguão aberto entre seu personagem John Sculley, e o Steve Jobs de Fassbender, beira o Shakesperiano, um texto fantástico para dois atores completamente imersos.
Seth Rogers deixa a desejar com seu Steve Wozniak, o ator até que se sai bem em comédias, mas realmente não convenceu no drama e mágoa de Wozniak. O grande destaque fica para Kate Winslet (eterna Rose de Titanic), no papel de Joanna Hoffman, braço direito de Steve jobs. A atriz entrega a coadjuvante que todo o protagonista gostaria de ter, com domínio total da situação, texto afiado e uma expressão de desespero recorrente, Kate Winslet é uma das favoritas para o Oscar de atriz coadjuvante desse ano (o meu voto seria dela).
Enfim, Steve Jobs é um longa que vale pela ousadia, pela desconstrução da história, pela forma totalmente inovadora de se contar um biografia. O filme invade a privacidade de Steve Jobs para mostrar sua várias nuances e instabilidade, mas falha também em se render a um certo sentimentalismo familiar que tem pouco espaço para desenvolvimento e fica mal resolvido… Steve Jobs é com certeza uma tentativa válida, mas não definitiva… Confira nossa Chuck Nota logo abaixo.