Ela : Crítica Especial

Imagine um mundo onde não é necessário se esforçar para agradar sua cara metade, basta ser você mesmo, não importa o que faça ou seja, você será compreendido. Seria este o relacionamento perfeito? Ela , novo filme do diretor Spike Jonze (Onde Vivem Os Monstros) levanta este e tantos outros questionamentos sobre relacionamento e o que é realmente real num mundo dominado pela tecnologia

O próprio Jonze escreveu o roteiro que mostra Theodore, um escritor em depressão (Joaquin Phoenix), ainda sentido com o divórcio da “mulher de sua vida” (Rooney Mara). Infeliz com tudo ao seu redor, ele equipa seu computador com um novo e sofisticado sistema operacional, que possui uma inteligência artificial que aprende e evolui baseado nas respostas que recebe.O computador ganha o nome de Samantha e com a voz aveludada de Scarlett Johansson sussurrando palavras ao seu ouvido. Em pouco tempo Theodore está apaixonado.
Indicado 5 vezes ao Oscar em 2014 – Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original e Melhor Design de Produção, o filme Ela , trabalha profundamente o conceito de relacionamento amoroso e como o ser humano deposita expectativa em preencher seu vazio através de um companheiro. O roteiro mostra o quanto a fragilidade de relacionamentos pode mudar a vida das pessoas, no caso de Theodore , a tecnologia já havia invadido seu pensamentos durante o momento mais difícil, ajudando-o a se esconder da convivência social, assim como seu emprego, onde ele podia escrever tudo que sentia , mas assinando em nome de clientes que precisavam de sua sensibilidade para escrever. A entrada do sistema SO no longa, é mais um tentativa do escritor de se isolar de vez .
Logo num primeiro momento presenciamos a interação entre máquina e homem com certa estranheza, de fato até o final do filme ainda fica um ar bastante surreal nesta proximidade, mas o que torna tudo mais crível é a forma como o relacionamento vai se desenvolvendo, e como a inteligência artificial interpretada por Scarlett Johansson evolui em pensamentos e até no jeito humano de se portar, quando começa a agir cada vez mais próxima de uma mulher real, cheia de inseguranças e desejos.O longa questiona o tempo todo o que é o conceito de relacionamento perfeito, e se realmente ter alguém que concorde e se adapte a tudo que o companheiro faz, é o ideal. Quase um Sci – Fi , Ela mostra tecnologia extremamente futurista ,um mundo onde as pessoas cada vez precisam menos umas das outras , se hoje se contesta as relações cada vez mais virtuais e distantes , Spike Jonze traçou um paralelo utilizando um futuro distante para explicitar que é muito difícil separar o que é real das ilusões neste mundo repleto de tecnologia , onde nunca se sabe o que as pessoas pensam,  na relação de Theodore com Samanta, é impossível saber se a inteligência artificial de fato se apaixonou por seu dono, ou simplesmente aprendeu a se apaixonar num processo totalmente automatizado e programado para agradá-lo (talvez o fim do filme dê esta resposta).
Scarlett Johansson faz um trabalho interessante como a voz do computador, para uma mulher considerada uma das grandes musas de Hollywood, atuar sem poder usar o corpo e suas expressões faciais é um desafio, Scarlett teve de trabalhar sua entonação e trejeitos para parecerem um evolução, para que máquina se humanizasse com o passar do filme, a atriz conseguiu construir esta sinergia com o processo tão bem quanto a interação com Joaquin Phoenix, este novamente impecável, pode ser um ator complicado, cheio de polêmicas, difícil de se conviver em set, mas não há como negar Phoenix é um dos atores mais geniais do mercado Hollywoodiano atualmente , não existe filme em sua filmografia do qual ele seja digno de críticas, sua imersão e técnica são algo impressionante, talvez o personagem não exigisse tanto quanto seu papel em O Mestre (onde ele deveria ter ganho o Oscar), mas mesmo assim não há o que retocar mais uma vez no trabalho deste craque. Amy Adams (O Homem de Aço), tem um papel menor  portanto sem necessidade de uma atuação nível Amy Adams
Enfim, Ela é um daqueles filmes que causa bastante reflexão, traz respostas interpretativas, mas oferece um escapismo raras vezes encontrado, é bom acreditar no inacreditável as vezes e Ela tem um argumento tão bom que parece inacreditável.