Continuando a temporada de filmes de Oscar, chega as salas brasileiras um dos grandes favoritos deste ano. Com 9 indicações, Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância), trouxe uma crítica bastante contundente a industria do entretenimento e, ainda tratou de recuperar o prestígio de um dos atores mais queridos de nossa infância. o sr “Eu sou Batman”, Michael Keaton…

Em Birdman, no passado, Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough), Riggan precisa lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente.
Birdman é basicamente um longa sobre aceitação, tudo gira em torno de uma necessidade do ator em ser reconhecido como algo mais do que um “fantasiado endinheirado” ou uma “celebridade excêntrica”. De fato o filme chega a brincar com a situação atual do cinema, dominado por super heróis (com uma piada divertida com Robert Downey Jr), mas em nenhum momento ele ataca profundamente essa vertente atual, porque na verdade o tal personagem é um pano de fundo para lhe dar com a forma como a industria do entretenimento lida com seus astros e até que ponto isso pode mexer com suas vidas.
Riggan Thomson é o típico ator de meia idade inseguro quanto ao seu talento que acha uma esperança de finalmente agradar a crítica especializada e mandar seus fantasmas para longe. A voz inconsciente representada na figura do personagem Birdman, tenta lhe dizer que aquilo não é importante e que na verdade o que importa mesmo é o público que paga o ingresso e que o reconhece nas ruas.

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A grande crítica a industria do entretenimento está justamente nesta dúvida de Riggan. Hollywood cria seus “heróis” e ao mesmo tempo cria os monstros que vão destruí-los. O artista é “refém” do pensamento de que críticos não podem gostar de material popular e público não gosta de material refinado, ao tempo que a indústria de cinema valoriza os astros que fazem dinheiro, com grandes bilheterias, ela também marginaliza estes mesmos astros ao taxá-los como atores segmentados e usar o dinheiro que eles fazem com blockbusters para fazer filmes direcionados a crítica especializada, na grande maioria das vezes sem os “brutamontes” ou “comediantes idiotas” que sustentam o mercado. Este preconceito é perfeitamente traduzido na figura da crítica de teatro de Nova Iorque, que só tem amizade com atores de teatro e despreza totalmente Riggan única e exclusivamente por ele ser uma celebridade. É algo muito próximo da realidade, muitos críticos já tem suas críticas prontas antes mesmo de tomar contato com o material e descarregam suas frustrações em críticas pesadas e cheias de preconceito.
O diretor  mexicano Alejandro González Iñárritu, aborda essas vertentes magistralmente, mostrando que Hollywood sustenta um pressão por resultados desumana, enquanto também sustenta figuras como o crítico de Nova Iorque, que tem sua opinião mistificada e super valorizada quando usam seus textos em cartazes e capas de Dvds para avalizar o filme. Alejandro também dá um banho de técnica durante a projeção, principalmente no que diz respeito a fotografia. Sem pontos fixos, a impressão é de que estamos assistindo ao filme sob a ótica da própria voz inconsciente de Riggan, que o acompanha e o enxerga sem lógicas de física, de frente, de costas, por baixo, a câmera gira ao redor da cena como um drone espião e faz você imergir de um forma inexplicável. Um plano sequência com cortes que a gente não percebe e mantém um ritmo fantástico.
É engraçado ler a sinopse de Birdman e notar como ela de alguma forma, faz um paralelo com a carreira de Michael Keaton. Keaton passou por momentos parecidos, pois foi um precursor dos filmes de super – heróis com seu Batman em 1989 (uma das maiores bilheterias história na época), e após recusar fazer o terceiro filme (por desentendimentos com o Joel Schumacher que havia assumido a franquia), Michael Keaton não se encontrou na carreira novamente, tentando todos os tipos de personagem que o afastassem da sombra do Batman. Até que, ano passado caiu em uma grande produção ao interpretar o vilão de Robocop e agora, foi aclamado pela crítica e desponta como um grande concorrente para melhor ator de 2015. Justiça seja feita, Michael Keaton  combinou com o clima surtado do filme, ele está ali, você sente a figura de Keaton durante todo o longa, atuação espetacular, que mesmo com a fortíssima concorrência deve render alguma dúvida aos votantes da academia, assim como Edward Norton que concorre como melhor ator coadjuvante, representando o típico ator alternativo, avesso a Hollywood. Norton mostra que é um dos melhores atores de sua geração e entrega uma atuação forte e cheia de personalidade, possivelmente tenha mais chances de vencer em sua categoria do que o próprio Michael Keaton.
Enfim, o roteiro de Birdman não subestima a inteligencia do espectador, nem a superestima. Em meio a um clima surtado o suficiente para “explodir cabeças”, o filme trata de entregar as respostas certas nos momentos certos com doses cavalares de criatividade. Birdman é um filme  com F maiúsculo. Veja a Chuck Nota de Birdman logo abaixo…

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