“A Mula” é Clint Eastwood usando sua experiência para contar boas histórias
Inspirado na história real de Leo Sharp, veterano da Segunda Guerra Mundial, que se tornou o mais velho e efetivo transportador de drogas (uma “mula”) do Cartel de “Sinaloa”. “A Mula” , conta a história de uma lenda urbana entre os traficantes, conhecido como “El Tata”, ele chegou a transportar 300 kilos de cocaína de uma só vez.
“A Mula” (nome bem literal, por sinal) traz um Clint Eastwood (“Menina de Ouro”), como o próprio personagem de Bradley Cooper diz ,”sem filtros”. Bem como, brincando com os esteriótipos que ele mesmo carrega, sem precisar fazer exageros de interpretação. Por outro lado, também faz graça com as mudanças de paradigmas que um senhor da idade dele, testemunhou ao longo dos anos, principalmente em termos de racismo.
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O filme começa com uma apresentação simples do personagem, Earl. Em um pequeno plano sequência numa convenção de flores, já vemos que o personagem é carismático, mulherengo, avesso a tecnologia, bastante vaidoso e um pouco solitário (por escolhas próprias)
A forma como o personagem de Eastwood entra para o mundo do crime é um pouco fácil e demais. A velha história do homem certo, no lugar certo, numa sequência de fatos muito improváveis e diferentes da história real de Sharp, que pareceria bem mais coerente do que a vista em “A Mula”.
Algumas passagens não parecem muito críveis, principalmente a forma como Earl faz o dinheiro de sua primeira viagem multiplicar. Para compensar possíveis deslizes, no entanto, o estilo de direção mais “intimo” de Clint Eastwood dá atenção aos detalhes. Clint constrói uma mistura de estilos com base num “Road Movie”. As estradas americanas servem de cenário para entender a personalidade da “Mula”. São passagens pontuais e competentes que, dessa forma, nos fazem entender o porquê dele ter ficado tanto tempo longe dos olhos da lei. “A Mula” transita facilmente entre momentos de tensão e humor, principalmente com as piadas puxadas pelo próprio Clint Eastwood.
A fotografia de Yves Bélanger, segue seu estilo já conhecido em filmes como “Clube de Compras Dallas” e “A Chegada”. Contemplativo e dando espaço para as expressões, marcas de rosto, que efetivamente, são bem utilizadas apenas pelo próprio Clint Eastwood. Fotografia que tem a companhia de uma trilha que se não é muito inovadora, com certeza tem o D.N.A do filme.
O elenco recheado de bons nomes faz um trabalho reto, sem grandes destaques. Não é um trabalho para se lembrar de Bradley Cooper (“Nasce Uma Estrela”), Laurence Fishburne (“Matrix”) e Andy Garcia (O Poderoso Chefão 3), o mesmo vale para a jovem e boa Alisson Farmiga (“A Freira”). Os traficantes mexicanos, também bastante estereotipados, trazem velhos conhecidos de Velozes e Furiosos (Noel Gugliemi) e da série Nip Tuk (Robert LaSardo).
O destaque mesmo, fica para Clint Eastwood que do alto de seus quase 90 anos, ainda impressiona com sua figura carismática e forte e com aquela aparência que remete mais a experiência do que a velhice. Ao contrário do próprio personagem que inspirou a história, Clint impõe uma atitude de alguém que pode realmente reagir a qualquer momento e parece não ter medo de mais nada a essa altura.
Enfim, “A Mula” é um longa que foge de suas expectativas iniciais sobre uma história de cartel de Drogas, mas para trazer uma jornada humana. Uma jornada com foco no uso do tempo, e no investimento errado dele. Como o próprio Earl ressalta “o tempo é o único bem que não se pode comprar de volta”, e Clint Eastwood pode dizer que utilizou bem o tempo dele em termos de cinema, mais uma vez. Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo.