Repleto de metáforas, “O Quebra-Cabeça” mostra visão americana para história argentina
Em “O Quebra-Cabeça” Agnes é uma mãe suburbana na casa dos 40 anos que tem todo o seu tempo consumido e dedicado ao cuidado dos homens da sua família. Quando ela descobre o dom de montar quebra-cabeças, seu mundo muda completamente. Com novos horizontes, toda sua família é forçada a se ajustar e mudar junto com ela, que passa a participar de competições de montagem de quebra-cabeças.
Trata-se de um filme sobre rotina e solidão, com um esporte “diferente” de pano de fundo. “O Quebra-Cabeça” começa com uma grande metáfora sobre a vida da protagonista, que procura ter todas as “peças”, no lugar. Justamente a lógica para a presença do jogo na história, uma atividade onde se colocam todas as peças no lugar e não há variantes, a imagem certa vai se formar.
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Remake de um sucesso argentino de 2009, essa versão americana não foge de algumas mudanças comuns para o cinema americano, como o rejuvenescimento da personagem principal. Foram mantidos alguns aspectos, Agnes tem dois filhos, o marido e a igreja; não sabe o que é Google e veganismo; não liga para tecnologia; e etc. Na versão americana, esse estilo quadrado de Agnes fica um pouco contraditório, principalmente quando se pensa nos pré – requisitos para entrar no jogo de quebra – cabeças e na idade da protagonista.
A construção dos personagens é rápida, mas eficiente. Principalmente a rotina monótona e desestimulante de Agnes, que aparece sempre como figura central nos quadros das primeiras cenas, em um estilo que lembra muito filmes europeus. A família toda também é apresentada com detalhes suficientes, um marido conservador, um filho sem grandes objetivos e o outro oprimido. Uma composição que funciona para o contexto em que Agnes precisa estar.
O Quebra-Cabeça é um longa que tenta mostrar alguma independência feminina, mas as vezes ainda esbarra em soluções masculinas. Não parece ser a intenção, mas sim artifícios ainda difíceis de se desvencilhar na cultura de forma geral. Talvez uma mulher como diretora tivesse alterado algumas sensações que o filme de Marc Turtletaub (Pequena Miss SunShine) acaba passando.
A montagem e a fotografia são oscilantes, mas no bom sentido, os estilos mudam levemente de acordo com o clima do filme. A inocência traz uma montagem mais compassada e, aprecia o ambiente com calma, já os momentos mais tensos (não são tantos), jogam personagens em close, um contra o outro.
No elenco, os grandes nomes são, Irrfan Khan (“Quem quer ser Um Milionário”) sem grande diferença para o que costumamos ver dele, e Kelly McDonald (“Onde os Fracos não Tem Vez”) que consegue trazer à tona a dona de casa retraída, que tem pequenos rompantes de independência, mas que parece ainda ter uma longa jornada de descoberta pela frente.
Enfim, “O Quebra-Cabeça” é previsível, mas competente, principalmente para quem não viu a versão original (ou simplesmente prefere as versões americanas). Um filme que passa a sua mensagem com um bom elenco e deixa margem para se pensar sobre a história, o que é sempre importante. Confira o trailer e nossa “Chuck Nota”, logo abaixo.