Numa daquelas continuações que ninguém acreditava que aconteceria, chega aos cinemas T2 Transpotting, sequência do irreverente e completamente “fora da casinha”, Trainspotting de 1996. Uma continuação feita para um nicho que jamais se esqueceu das loucuras e transgressões do primeiro filme. Mas se engana quem pensa que nessa versão de 2017, encontrará nostalgia, pois esse não é um longa nostálgico e sim, um interessante estudo sobre o sentimento de nostalgia.
Vinte anos se passaram. Muita coisa mudou, mas muita coisa continua exatamente igual. Mark Renton (Ewan McGregor) volta ao único lugar que ele já chamou de casa. E os velhos amigos estão esperando por ele: Spud (Ewen Bremner), Sick Boy (Jonny Lee Miller) and Begbie (Robert Carlyle). Para os quatro, é uma oportunidade única de olhar para o passado e acertar as contas com ele.
O filme já não consegue apresentar nada tão revolucionário, talvez nem tenha pretensão disso hoje em dia. Em tempos onde qualquer produtor no Youtube consegue fazer de um tudo esteticamente falando, Danny Boyle (Quem quer ser Um Milionário), se preocupa em contar sua história com assertividade, construir a trama com algum suspense, mas sem distrações.
O primeiro ato do filme trata de transparecer como as escolhas dos jovens europeus refletem até hoje em suas vidas, e mesmo em relação a Renton, cujo a vida para ter sido mais tranquila, percebemos que há muito o que se entender.
A imprevisibilidade do Begbie vivido por Robert Carlyle continua reverberando nessa continuação e representa bem um dos conceitos do filme, o de como o mundo muda, mesmo que você não mude.
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T2 é irônico e ácido, quando flerta com o romantismo em relação a juventude. Fato é, que Renton volta a cidade basicamente para fazer turismo em sua juventude como dito literalmente no filme, mas essa visita nem sempre é feliz. São sentimentos ambíguos de quem viveu a vida da forma mais louca possível e agora tem que conviver com as consequências, com sofrimento, arrependimento, auto destruição e as perdas que ela causa. Tudo ao som da ainda inconfundível trilha sonora com bases no Punk Rock e eletrônico.
Ao contrário da maioria das continuações que se vê hoje, T2 Trainspotting é um longa difícil de ser aproveitado por que não viu o primeiro filme (que está no Netflix e eu recomendo), pois referencia muito diretamente os acontecimentos do passado, algo que inclusive, tira o ritmo dessa continuação em certos momentos.
Um dos pilares mais importantes do primeiro filme são as atuações, que voltam aqui com a mesma voracidade e talento daquela época. Principalmente, Robert Carlyle (Ou tudo, Ou Nada) e Ewen Bremner (Falcão Negro em Perigo), entregues em uma fantástica leitura de “evolução” de seus difíceis personagens, ambos tão bons que conseguem tirar o peso carregado pelo badalado Ewan McGregor (Star Wars: A Ameaça Fantasma).
Se num primeiro momento essa continuação parece desnecessária, e principalmente, atrasada, Danny Boyle trata de abordar com coerência o envelhecimento de toda uma geração que via a inquietação daqueles caras nos anos 90, com sua crítica a sociedade de consumo. É bem verdade, que essa abordagem poderia ter sido feita por um novo filme, com novos personagens, mas a ligação com essa turma é o combustível para entender a reflexão.
Da metade para frente T2 Trainspotting, deixa as reflexões de lado para entrar numa fórmula mais convencional de trama de vingança, com tons de suspense e alguma ação, mas um caminho pouco original para o desfecho de uma história tão intensa como essa.
Enfim, o final ainda tocante, leva a um olhar sobre passagem do tempo e como algumas coisas não morrem dentro de você. É um ensaio sobre como as pessoas estão sempre em busca de reviver e entender seus melhores momentos, enquanto percebem que eles não vão voltar. T2 Trainspotting olha pra trás com a sabedoria de quem sabe que são novos tempos, e que depois daqueles breves clarões de lembranças, é preciso seguir em frente… Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo.