Bohemian Rhapsody ameniza os lados mais sombrios de Freddie Mercury para dar luz a seu talento
“Bohemian Rhapsody” mostra o sucesso meteórico da banda Queen através de suas canções icônicas e som revolucionário, a quase implosão quando o estilo de vida de Mercury sai do controle até o reencontro triunfal na véspera do Live Aid. Momento em que Mercury, agora enfrentando uma doença fatal, comanda a banda em uma das maiores apresentações da história do rock.
O filme começa com um excelente plano sequência com Freddie caminhando de costas e sozinho, sem jamais ser revelado por completo. A caminhada é em direção ao palco do Live Aid e tem uma atenção aos detalhes acima do normal.
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Bohemian Rhapsody está mais para um filme inspirado em fatos reais, do que essencialmente biográfico. Fato é, que o longa é “chapa branca”, a princípio, o que parece ter sido o motivo da saída do primeiro protagonista, Sacha Baron Cohen (“Os Miseráveis”).
A versão dos integrantes da banda para os fatos (eles são produtores do filme), parece até um tanto fantasiosa em determinados momentos. Todos os “defeitos” de Freddie Mercury são sub-entendidos e filtrados, mas nenhum deles chega a causar proporções imediatas no contexto do filme.
Se entende que ele teve problemas com drogas, porque existe pó em mesas, se entende que ele bebia, por estar com o copo na mão, ou se entende que ele se descobre gay, por trocas de olhares com outros homens. Até mesmo os ataques de estrelismo e problemas de relacionamento com a banda, vão para uma linha um pouco mais bem humorada. Sem dúvida um excesso de zelo com a imagem de Freddie Mercury e do Queen, que se não prejudica o filme, também não deixa ele ser tão ousado quanto seu protagonista foi.
Também existem várias adaptações da linha de tempo para tornar o filme mais vendável. Logo, muitos momentos conhecidos pelos fãs estarão em uma ordem mais cômoda para o roteiro. Como revelações, curiosidades e até o Brasil na vida de Freddie.
Dito isso, é preciso entender que Bohemian Rhapsody faz escolhas. Escolhe primeiramente apresentar o Freddie Mercury pessoa e artista, e não suas aventuras de superstar. Uma opção de auto preservação e homenagem, o que é compreensível.
Freddie é apresentado como uma figura frágil, extremamente solitária e carente, refugiando suas mágoas em música e vícios. O diretor Dexter Fletcher (“Voando Alto”), foi muito feliz em captar em pequenos (e tristes) momentos, como Freddie busca seu lugar. Para isso fecha planos muitas vezes enigmáticos, em espelhos e lentes de óculos. A montagem é competente, e tem ritmo, mesmo considerando que o filme tenta ser um compilado de acontecimentos, sem se aprofundar muito neles. Alguns dos melhores momentos estão no processo criativo da banda em suas maiores composições, que bebem desse estilo de Fletcher para parecer um vídeo clipe.
Nesse momento entra o trabalho extraordinário, do versátil, e cada vez mais requisitado, Rami Malek (série Mr Robot). Se fisicamente Rami é mais magro e baixo que Freddie, sua atuação compensa tudo. O ator incorpora a essência de Freddie Mercury de forma assombrosa. O homem reservado, cheio de ideias, que se soltava nos palcos e dominava plateias gigantes pelo mundo inteiro renasce no filme. Rami Malek trabalha cada trejeito, a voz (falada, já que ele dubla a maior parte das músicas), a forma de andar. Sem dúvidas, Rami surge como uma boa aposta ao Oscar. Outra performance inesperada, é a de Mike Myers (o “Austin Powers”) que faz uma ponta como empresário.
O mundo recriado pela banda também elege um grande “vilão” para a história do Queen, Paul Prenter. Um tipo de assistente de Freddie Mercury, vivido aqui por Allen Leech(“O Jogo da Imitação”). Imediatamente, o personagem é sempre retratado de forma maquiavélica, e em alguns momentos até caricata. Paul faz olhares mal intencionados, está sempre a espreita, aparece em lugares menos iluminados que os outros personagens. Definitivamente, há uma pré-disposição do roteiro a mostrá-lo como uma figura completamente maléfica e responsável por todas as falhas de Freddie. Por outro lado, fica a impressão de também ter muito de vingança e mágoa do outros integrantes do Queen nesse retrato.
A trilha sonora, logicamente, é um dos pontos mais importantes de “Bohemian Rhapsody”. A discografia do Queen funciona para qualquer filme e não haveria de ser diferente no seu próprio. Mas onde sentimos mesmo a força da música da banda é no famoso Show do Live Aid. A reprodução feita para ser o clímax do filme é uma apoteose. Bem,como facilmente levará os fãs menos contidos a participarem das interações no cinema como se estivessem no estádio. Uma cereja do bolo criado por Rami Malek ao longo do filme.
Enfim, “Bohemian Rhapsody” chega como um bem vindo alívio na lista de filmes desse ano. Um longa sobre música e criatividade, principalmente, para quem gosta mais disso do que das fofocas sobre os artistas… Confira o trailer e nossa “Chuck Nota” logo abaixo.