Aproveitando um pouco da fumaça criada pelo previamente badalado filme sobre Winston Churchill, estrelado por Gary Oldman (“O Destino de Uma Nação”), “Churchill” chega com menos glamour e traz um recorte muito específico da história do líder, com foco em seus sentimentos e fantasmas de culpa sobre a guerra.
No filme, é Inglaterra, 1944, em plena Segunda Guerra Mundial. Às vésperas da realização da Operação Overlord, quando tropas aliadas desembarcaram na Normandia para enfrentar o exército nazista, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill (Brian Cox) batalha nos bastidores para que a ação militar seja adiada. Segundo Churchill, a operação é arriscada demais e colocaria em risco desnecessariamente a vida de milhares de soldados. Entretanto, apesar das constantes reclamações, o general Dwight Eisenhower (John Slatery) segue decidido a levar adiante a investida militar.
O filme abre com uma linda cena, um show de fotografia que já resume o que “Churchill” como filme, pretende mostrar sobre Winston Churchill, um homem que teme os horrores da guerra como talvez nenhum outro líder temesse na época.
“Churchill” é redondo em termos de narrativa e edição, você entende tudo, ainda que sinta falta de mais detalhes, de uma visão mais ampla, mesmo sobre o que motivava ou não as decisões do líder. O roteiro, muito inteligente em determinados momentos, trata os espectadores com certa ingenuidade em outros, introduzindo personagens sem qualquer importância para a história, que acabam servindo como desculpas pouco prováveis para as viradas. A escolha de fazer um roteiro tão focado em um curto momento, sem ter recursos para expandi-lo, tem também dois opostos no resultado final. Não espere ver cenas de guerra ou mesmo o famoso “Dia D”, o diretor Jonatha Teplizky constrói um clima de teatro, com poucos cenários, muitos diálogos e olhares, algo que deixa o filme intimista e prende nossa atenção, porém, essas mesmas decisões de fazer um filme “pequeno”, se sabotam quando se começa a tratar de assuntos obscuros e mais complexos sobre os bastidores da guerra ou como pensava Winston Churchill. O longa vai soltando pontas importantes sobre a personalidade do líder a ponto de nos fazer esperar por flashbacks, que por incrível que pareça cairiam bem aqui, mas não vem, assim como a variante relação com a esposa que soa equivocada e toma um tempo que poderia ser aproveitado para se aprofundar nos bastidores ao qual o filme se propõe.
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Todo o debate sobre a decisão estratégica do “Dia D”, é envolvente e cativante. O filme mostra um lado humano do líder que carrega a marca de ter visto muitos de seus soldados morrerem na primeira Guerra Mundial, algo que ele tenta desesperadamente impedir na Segunda Guerra.
Os atributos técnicos contribuem para trazer a tona essa profundidade do personagem, como é o caso da direção de arte, competente na recriação de época, sem inventar, e o destaque, que porém, fica para a bela fotografia. Cheia de brincadeiras com as cores e, principalmente, que consegue ludibriar o espectador, manipular realidade e imaginação para mostrar as feridas mais profundas de Winston Churchill. Um belo exemplo de como trabalhar os filtros mais variados e transformar cenas em “pinturas”.
Brian Cox (“Tróia”), entende e entrega um personagem bastante digno, de um caráter único e humor volátil. O filme é exatamente o que o título diz, foco no personagem, ponto. Brian então, consegue dar o toque fraternal que o protagonista pede.
Enfim, “Churchill” é correto, é valido, porém, essa mesma visão talvez funcionasse melhor como uma série, que desse mais tempo para ampliar o recorte histórico dos bastidores da Segunda Guerra Mundial… Confira o trailer e nossa “Chuck Nota”, logo abaixo.