Pude revisitar o primeiro filme da franquia esses dias, aquele lá de 2001, que despertou a febre do carro tunado, um exercício que eu recomendo para entender a proporção que tomou essa franquia. Aquela ideia de ser um filme underground, de locadora (na época), não tem nenhum espaço nesse momento da saga. Uma série de filmes gigantescos em termos de produção e que já não tentam disfarçar o que são, seja na hora de dirigir carros em chamas, fazer exercícios com pias de concreto ou vestir armaduras.
No filme, Dom (Vin Diesel) e Letty (Michelle Rodriguez) estão curtindo a lua de mel em Havana, mas a súbita aparição de Cipher (Charlize Theron) atrapalha os planos do casal. De forma misteriosa, Dom é obrigado a trair seus amigos e ajudar Cipher em seus grandiosos planos relacionados a armas nucleares. Para enfrentar a dupla, o “Sr. Ninguém” (Kurt Russel), reúne a velha equipe de Dom e mais alguns reforços que precisarão concluir sua missão mais difícil até agora.
Velozes e Furiosos 8 começa com aquele “fã service” já clássico para agradar os fãs da época dos rachas, uma bela e inacreditável corrida de rua em Havana, com Dom mostrando novamente sua lendária habilidade ao volante. Esse início de filme, também confirma outra habilidade, a de Velozes e Furiosos usar clichês.
A franquia utiliza os clichês com uma naturalidade quase irônica, como quando Vin Diesel é ovacionado em Cuba por vencer um cubano ou a “fumaça da maldade” que o envolve no momento de sua virada. Virada essa, que tem uma justificativa bem plausível, inclusive, mesmo que também despenque para o clichê.
Outra particularidade que percebemos nas primeiras cenas, é que a direção mudou, e mudou muito… Fica claro, o quanto James Wan (Velozes 7 e Invocação do Mal) é muito mais diretor do que o F. Gary Gray (Straigth Outta Compton) que assume agora. A diferença de tato na hora de filmar a ação é brutal, se James Wan dava um show em seu “ballet” de câmeras, edição e uso de C.G.I no sétimo filme, F.Gary Gray prefere seguir a linha do “muito ajuda quem não atrapalha”, e entrega um trabalho mais previsível, não deixa marca nenhuma, mas também não compromete.
A ação quase sempre comandada “misticamente” pela hacker Cipher, vivida na medida certa por Charlize Theron, não supera as loucuras de filmes anteriores, mas isso não é demérito. Novamente apresenta um criativo uso dos carros nos mais variados cenários, destaque para uma inacreditável perseguição de submarino e uma chuva de carros (literalmente rs). Tudo embalado pela competente trilha sonora pop (outra marca registrada da franquia).
Ainda sobre a ação de Velozes e Furiosos 8, ela deve muito a uma dupla que é a alma desse filme, Dwayne Johnson e Jason Statham, arrebentando nas coreografias, cada um a sua maneira. Dwayne brincando muito com seu porte físico “monstruoso”, e Jason Statham esbanjando vitalidade e velocidade. A dinâmica entre os dois é disparada o ponto alto do longa, sem dúvida se há a possibilidade de um “spinoff” da franquia, ele deveria ser focado nesses dois personagens, que conseguem até mesmo, a proeza de diminuir o espaço das piadas de Tyrese Gibson, para preencher com suas próprias. Vin Diesel continua sendo o centro das atenções e faz o que se espera dele, mas também sofre com o carisma inegável e ofuscante, de Dwayne Johnson, principalmente.
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O restante do elenco está ali para diversificar a equipe, com momentos pontuais para aparecer. Talvez a grande inserção seja de Scott Eastwood (filho de Clint Eastwood), que claramente está no filme para preencher o esteriótipo deixado por Paul Walker, do policial galã, sem a mesma importância para o enredo. Ainda sobre Paul Walker, esse primeiro filme sem o ator sente sua falta. Mesmo que muito humana e compreensível, a solução dada para a saída de Brian o’conner é difícil de se engolir quando incorporada a tudo que se viu nos filmes anteriores. Os “velozes” tentam reforçar a ideia de que Brian está totalmente afastado e desinteressado pela a ação e que não pretendem mudar isso. Por outro lado, mais uma bela homenagem feita no filme, deve inteligentemente manter o personagem presente em memória nos próximos capítulos.
As viradas da trama são simples como de costume, com seus personagens surpresa, ligações com o passado e etc. Mas são bem amarradas, e causam efetivamente uma injeção de ânimo no momento em que o filme mais precisa, próximo do final, deixando uma sensação de alívio e satisfação.
Enfim, a franquia chega ao seu oitavo episódio sem o brilhantismo de entretenimento de Velozes e Furiosos 7, mas entregando tudo que precisa para partir com tranquilidade para sua última trilogia. Velozes e Furiosos 8 é um blockbuster que sabe o que fazer para agradar seu público, com uma fórmula que parece não se desgastar e um improvável grupo de “super heróis” urbanos dotados de uma simpatia muito própria e renovada a cada capítulo… OBS: Não tem cena pós-créditos. Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo…