Um Limite entre Nós, marca a estréia do consagrado Denzel Washington como diretor e, apesar de carecer de uma ideia melhor de adaptação de mídia para mídia, mostra uma pureza e simplicidade arrebatadora.
O filme retrata a vida de Troy Maxson (Denzel Washington) e os conflitos que permeiam suas relações sociais e familiares. Casado com Rose (Viola Davis), ele leva uma vida difícil, em uma América hostil aos negros. Quando seu filho Cory (Jovan Adepo) decide seguir carreira no beisebol – antigo sonho do pai – e alguns problemas começam a acontecer na família, a convivência entre eles começa a ficar cada vez mais complicada.
O primeiro trabalho de direção de Denzel Washington é irregular, tem muitos problemas no que diz respeito a parte técnica, principalmente na falta de ousadia para contar a história. É tudo muito quadradinho, e sua condução lembra demais um telefilme, impressão reforçada pela fotografia conservadora e a montagem sempre muito demarcada e visível.
Baseado na premiada peça de teatro dos anos 80, o filme encontra problemas para fazer a transposição de mídias, o que o mantém sempre com um aspecto de teatro, praticamente um único cenário, e muito, mas muito diálogo, ao ponto de incomodar no primeiro ato do filme, onde o personagem de Denzel parece engatar uma quinta marcha e não parar mais rs.
Isolando essa questão teatral, o filme passeia por família, racismo e relacionamento. Um excelente e cruel estudo sobre as frustrações em sociedade e sobre como as escolhas e responsabilidades que elas acarretam podem levar as pessoas a idealizar uma vida que nunca terão e, consequentemente, a infelicidade “maquiada” com o tempo. Além de retratar uma realidade de tempos cruéis para os mais pobres (nesse caso os negros), que tinham seus sonhos e esperanças cada vez menos complexos e mais pés no chão, devido as dificuldades históricas de crescer numa potente segregação.
O roteiro de altíssimo nível, apresenta textos e subtextos fortes, matéria prima excelente para os atores trabalharem. O que parece se encaixar como uma luva, pois é um filme que se escora e se vale nas atuações.
O ponto forte do trabalho de Denzel como diretor, é justamente a direção de elenco. Ele como grande ator que é, consegue administrar o suficiente para manter o tom do filme, mas dar liberdade para o ótimo cast atuar, e o resultado vai muito além das já aclamadas atuações da dupla principal. Destaque para Jovan Adepo como o jovem Cory, filho do personagem de Denzel, que tem com certeza um do confrontos mais hipnóticos e intensos do filme, e Mykelti Williamson, que interpreta um perturbado tio da família, de uma forma bastante teatral, mas ainda assim gostosa de assistir. Claro que não poderíamos deixar de falar da dupla Denzel Washington e Viola Davis. Ambos extremamente carismáticos e ambos concorrentes do Oscar que aconteceu há uma semana (relembre aqui). Denzel foi sem dúvida um dos grandes injustiçados daquela noite, pois além da entrega usual, não é nada fácil fazer um trabalho desse nível preocupado em dirigir a cena também, e o ator se doou, construiu um personagem amargurado pelos reveses da vida e ciente de sua condição permanente e quase imutável. Enquanto Viola, se apropria de sua própria versão de amargura, nesse caso misturada a um conformismo que acaba explodindo de uma forma irresistível (e que lhe garantiu o Oscar) em determinado momento do filme.
Enfim, o título original (Fences – cercas), é uma belíssima analogia do filme, sobre como cercas podem servir para manter pessoas fora ou para mantê-las dentro de sua vida, em ambos os casos elas não deixam muita escolha, e é sobre isso que Um Limite entre Nós trata, sobre escolhas… Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo.