O projeto de uma versão atualizada dos Power Rangers era um dos mais aguardados pela geração Nerd dos anos 90 e quando anunciado causou “frisson”. Grande estréia dessa semana, o filme re-imagina o mundo dos Rangers em tempos atuais, prestando alguns tributos a série. Mas é preciso ser bem claro pra você que ficava brincando de Power Rangers no parquinho da escola, e está louco para despejar sua nostalgia na sala de cinema, esse filme não foi feito exatamente pra você… Adotando outro tom, ele está mais de olho no seu irmão mais novo, sobrinho e etc, mas surpreendentemente isso não quer dizer que você não vá gostar ou mesmo encontrar suas doses de nostalgia nele.
Os acontecimentos do longa acompanham a trajetória de cinco adolescentes comuns, que descobrem dons extraordinários quando eles percebem que a pequena cidade de Angel Grove (Alameda dos Anjos) e o mundo inteiro está a beira de ser extinto por uma ameaça alienígena. Os jovens heróis escolhidos pelo destino descobrem rapidamente que eles são os únicos que podem salvar o planeta. Mas, para isso, eles terão que superar os problemas da vida real e se unir como os Power Rangers.
O filme começa com um excelente prólogo, de dar inveja a filmes de heróis famosos da atualidade. O prólogo nos explica um pouco da mitologia dos Rangers através de uma impressionante cena na era mesozoica (dos dinossauros). Essa introdução já traz uma importante resposta sobre o filme… ele é muito bem produzido. Na contramão de todas as expectativas, não espere os efeitos baratos que se mantém na Tv até hoje, a qualidade dos efeitos visuais é de alto nível, novamente sem deixar nada a dever para os turbinados filmes de Marvel e DC.
Nas primeiras cenas o diretor Dean Israelita (Projeto Almanaque) também surpreende com takes criativos, uma agradável fotografia que gira e interage com a ação, nos dando a impressão de estar dentro dela (principalmente na cena perseguição do carro).
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A principio o filme parece um festival de coincidências inexplicáveis, mas assim como na série original, é como se as “pedras” conspirassem há anos para encontrar as pessoas certas. Aos poucos Power Rangers começa a desenvolver um drama adolescente que envolve toda a equipe e aborda situações muito específicas da idade, mas principalmente, mistifíca a transformação dos Power Rangers. Agora não é tão simples quanto levantar uma parte do cinto, falar o nome do seu dinossauro (e nesse filme eles não falam) e pronto, se transformam. Dessa vez, a ideia é construir toda uma mitologia de merecimento em cima da transformação, algo como um Super Sayajin (Dragon Ball Z). Para isso, é necessário que além do treino físico, os Rangers consigam estabelecer laços especiais entre eles, qualquer elo fraco pode impedir a transformação, uma analogia muito direta e bem pensada sobre o trabalho em equipe, base de filmes desse tipo. Nesse caminho de construção de amizade Power Rangers faz reverência ao clássico Clube dos Cinco.
O grande problema gerado por esse novo conceito, é que ele perde muito tempo com essa “romantização” do processo de morfar. Demora para que cheguemos a ação de verdade, e a tendência é que o público perceba esse ritmo mais lento. Falta ação, o que ajuda a passar o tempo, é o humor bem escrito do filme (uma ótima surpresa também), cheio de piadas auto referentes e tiradas engraçadas de uma forma orgânica e leve.
Essa boa interação se deve a personagens carismáticos e entrosados. A questão é que os jovens dão conta do recado, são simpáticos e divertidos. Destaque para os rangers Preto (Ludy Lin) e Azul (RJ Cyler), que apresentam uma proposta muita parecida com a equipe original, mas acrescentam personalidade aos personagens. Entre os cinco, quem tem menos brilho é a Ranger Amarela (Becky G.), que já tem um personagem naturalmente introspectivo e ainda carrega a responsabilidade de garantir um percentual “politicamente correto” ao longa. Zordon também é bem representado por Bryan Cranston, da série Breakin Bad, que já trabalhou na franquia Power Rangers (saiba dessas curiosidades aqui) e ajuda agora nessa repaginada, com um Zordon um pouco mais “humano” e de motivações mais fáceis de entender.
A vilã Rita Repulsa vivida por Elizabeth Banks (Jogos Vorazes), convence… apesar do roteiro fazê-la se render a todos clichês possíveis e imagináveis desse perfil de filme, como: não aproveitar oportunidades para destruir os Rangers com facilidade, contar demais seus planos e etc. O mais interessante dessa nova Rita são suas primeiras aparições, que lembram cenas de filme de terror, com um suspense até que bem elaborado, em conjunto com o design da personagem que mistura um alien com algo mais sensual, atraente, bem diferente da personagem da série original. Ainda sobre o design de produção, é importante se atentar que a mudança nos uniformes dos Rangers deixa eles com uma aparência mais poderosa do que conhecemos, o visual faz jus aos memes com Homem de Ferro, mas lembra muito o recente Robocop, do José Padilha. Já os Megazords deixam um pouco a desejar, são artificiais demais, a ideia parece ter sido melhor aproveitada em Círculo de Fogo, um filme que claramente homenageou os Power Rangers, e onde os robôs tinham mais peso, proporcionalidade. Esse momento do filme segue uma linha mais “Transformers” (que inclusive é citado em uma das referências), quando um estilo mais parecido com Círculo de Fogo teria injetado um realismo que combinaria mais com a nova visão da franquia.
Enfim, com uma trilha competente, cheio de referências a série (com participação de Rangers originais, música de abertura) e cultura pop em geral (destaque para referência a Duro de Matar), Power Rangers se reinventa no cinema de uma forma “redondinha”, sabendo exatamente para onde quer ir e qual público quer conquistar, com um fórmula que funciona, muito acima das expectativas de quem achou que o reboot poderia ser uma galhofa de baixo orçamento. Com direito a cena pós – créditos confiante nos próximos filmes, a equipe de super heróis mostra um potencial de franquia real, e com muito a ser explorado ainda. Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo…