O retorno de uma das personagens de terror mais aclamadas dos últimos anos, vem com muita expectativa agregada e, ao mesmo tempo, a dúvida se o filme seguiria sua personalidade original adaptando – a aos novos tempos, ou deixaria os novos tempos adaptarem sua personalidade original para algo mais genérico. Há algo de muito inteligente na adaptação do compartilhamento de vídeo em si, uma lógica substituição das fitas cassete por arquivos digitais, dentre todas as novas ideias, podemos dizer que as boas, param exatamente por ai…
A nova trama mostra a saga da jovem Julia (Matilda Lutz), em busca de respostas, após o seu namorado, Holt (Ales Roe), assistir a uma fita de vídeo, que faz a pessoa que a assiste morrer em sete dias. Julia se sacrifica para salvar a vida dele e acaba fazendo uma descoberta terrível: há um “filme dentro do filme” que ninguém jamais viu antes.
O filme já começa preocupado demais com o público mais desavisado que está tendo o primeiro contato com a franquia. É inserida uma cena, praticamente pré-filme, que em nada tem a acrescentar ao longa, além de explicar a lenda da Samara para estes que não conhecem os filmes anteriores.
O Chamado 3, distorce perigosamente a premissa da série, algo que vimos acontecer na segunda continuação de Jogos Mortais e não fez bem aquela franquia também. Desfazer as regras que o público está acostumado faz com que deixemos de esperar alguns momentos cruciais em determinadas franquias. Além de alterar drasticamente a forma como Samara “atua”, chegando a modificar o jeito como a personagem “participa” da distribuição dos vídeos. O filme também começa a trabalhar conceitos que lembram muito Premonição, quando a “morte” passa pular para o próximo quando é enganada, algo totalmente fora de contexto dentro dessa franquia.
A tentativa de recontar a história de Samara soa desnecessária, parece presunçosa para um filme que deveria apenas elevar um pouco o nível dos lançamentos. Dentro dessas novas possibilidades, o envolvimento com a história da mãe de Samara parecia ser uma boa ideia a principio, mas é mal executada, não funciona e ainda tira o protagonismo da menina.
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Daí pra frente é um festival de situações inexplicáveis, sem uma ligação forte, a começar pelo auto sacrifício da protagonista em pról do namorado distante e uma leve e desconcertante trama de amor que arranca risos tamanha é a falta de naturalidade dos diálogos.
A maioria das piadas está fora de tom, exceto, talvez, por uma com Johnny Galecki (série The Big Bang Theory), onde ele brinca justamente com o personagem que o deixou famoso na série. Aliás esse tipo de piada auto referente, não para por aí, a participação de Vincent D’Ofrio (série Demolidor), também é um easter egg inteiro, truques para criar empatia com o público.
O desequilibrado elenco, conta com o fraquíssimo Alex Roe, protagonista de um dos piores filmes do ano passado (A Quinta Onda, confira a crítica aqui), para seu par a escolha também não foi das mais felizes, a italiana, Matilda Anna Ingrid Lutz não consegue entregar nada verossímil, seja em seu romance quase adolescente, ou em seus rompantes de susto.
Na contramão, Vincent D’Ofrio é tão melhor que destoa dos outros, apesar de também sofrer com um roteiro que faz um cego ter habilidades especiais apenas quando lhe convém, ou outros personagens falarem sobre acontecimentos quando o roteiro precisa justificar as informações. Vincent é claramente um ator que leva a sério o trabalho e injeta força em suas cenas mais pesadas, fazendo de seu personagem Burke, o ponto alto do filme
Enfim, gosto muito do conceito de O Chamado, e em uma época de filmes tão comuns e repetitivos no gênero, era bem vindo. Porém com roteiro todo remendado e jump scare que dão certa vergonha como a tentativas de susto com o abrir dos guarda-chuvas, fica muito difícil levar a sério. Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo…