Beleza Oculta é um daqueles filmes que desperta a curiosidade de qualquer um pelo elenco recheado de grandes estrelas e sua interessante e inusitada premissa. Porém, o receio de navegar em sua própria trama, faz de Beleza Oculta um filme abaixo das expectativas que ele mesmo cria.
No filme, quando um bem-sucedido executivo da publicidade (Will Smith) de Nova York sofre uma grande tragédia ele se isola de tudo. Enquanto seus preocupados amigos tentam desesperadamente se reconectar com ele, o executivo procura respostas do universo escrevendo cartas para o Amor, Tempo e Morte. Mas é somente quando suas ações trazem responsabilidades pessoais inesperadas que ele começa a entender como essas constantes se relacionam com uma história plenamente vivida, e como até a maior das perdas pode revelar momentos de descoberta e de beleza.
O conceito das “três motivações” é assustadoramente bem explicado no início do filme, nos despertando um interesse quase que instantâneo antes mesmo da exibição do título do longa, algo que se estende para a simbologia da reconstrução, apresentada na cena seguinte através dos castelos de dominós.
Uma das ideias mais interessantes do longa, é que ao contrário do que se imagina, ele não é focado em como Howard (Will Smith) lida com as três forças do universo, ou como ele as trata, com as três “motivações básicas” (amor, tempo e morte) e sim, como as três motivações definem o ambiente em que Howard está inserido. Seus companheiros de trabalho são os paradoxos de quem não percebe as “motivações” tomarem conta de suas vidas, enquanto eles se preocupam com a sanidade mental de Howard.
É difícil comentar o filme sem revelar spoilers, mas o que se pode dizer, é que ele é efetivamente bem diferente do que parece nos trailers (confira aqui). As três motivações , vividas por Hellen Mirren (morte), Jacob Latimore (tempo), Keira Knightley (Amor, aliás como olhar seu maxilar e não lembrar do Deadpool? rs), são menos surreais do que se imagina (num primeiro momento), e algumas das melhores cenas e diálogos são dos confrontos deles com Howard, que funcionam justamente pela discussão, pela inquietação do personagem de Smith para aceitar os questionamentos que a vida lhe trouxe.
A falta de alguns desenvolvimentos no roteiro acaba por criar uma simbiose que se alimenta disso para nos fazer mudar o foco do filme e pensar sobre como lidamos com perdas em nossas vidas, tornando Beleza Oculta uma história emocional e humana, reforçada pela atuação dedicada de Will Smith que parece mais disposto no filme do que o restante do elenco. A transformação de postura de Howard é notável, de uma sequência para outra, desde de seu jeito de andar até a fala pouco confiante e introspectiva, totalmente oposta a primeira aparição do personagem.
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O grande elenco de Beleza Oculta é muito pouco explorado, gerando algumas atuações automáticas, como as de Edward Norton (Clube da Luta) e Kate Winslet (Titanic), ou simplesmente decepcionantes como a de Michael Peña (Perdido em Marte), que tem um material mais complexo para trabalhar, mas não consegue entregar. Fica claro, que esse núcleo da agência, não carecia de nomes tão potentes (pelo menos não com esse roteiro). Hellen Mirren (Red – Aposentados e Perigosos) ainda consegue se diferenciar por construir mais camadas de atuação do que a maioria dos personagens do filme.
A boa fotografia se vale da aconchegante paisagem de natal de Nova York para nos trazer um espírito familiar, enquanto a competente trilha sonora, é usada com certo exagero, em quase todas as cenas que introduzam alguma crescente. Também existem problemas na montagem final, que deixam a personagem Keira Knightley um tanto avulsa no longa, tanto em desenvolvimento, quanto a respeito de seu desfecho.
Enfim, sentimos falta em Beleza Oculta de uma narrativa que explora- se mais o drama do personagem de Will Smith, fazendo ele se confrontar mais vezes com os questionamentos do universo que tanto chamam atenção na premissa. Com um material para efetivamente ser um filme poderoso e reflexivo, Beleza Oculta acaba se apresentando “apenas” uma história comovente e emocional sobre perda, que tem seu méritos, mas deixa um incomoda sensação de que tinha muito mais potencial. Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo…