Estréia: 26/01/2017
O filme que marca o retorno de Mel Gibson a direção, chega como um dos favoritos da temporada do Oscar e mostra (novamente), que o astro de Máquina Mortífera sabe o que precisa fazer atrás das câmeras, desde a parte técnica, até a capacidade de tirar “leite de pedra” com certos nomes em seu elenco.
O longa é baseado em uma história real, que acontece durante a Segunda Guerra Mundial e tem como protagonista o médico do exército Desmond T. Doss (Andrew Garfield). Doss se tornou conhecido por ter recusado a pegar em armas durante o conflito, fato que não o impediu de salvar mais de 75 pessoas durante a Batalha de Okinawa.
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Todo o primeiro ato é um pouco mais lento, explica as bases de Doss e sua relação com o pai, fundada no respeito, apesar dos diversos problemas na família. Com essas informações somos lançados as etapas da guerra junto com ele e acompanhamos sua saga, num primeiro momento insana, para participar de uma guerra sem guerrear efetivamente. A construção da personalidade do teimoso e heroico Doss, lembra o filme Homens de Honra, de 2000, com Cuba Gooding Jr e Robert DeNiro.
Fato é, que o filme não tem Cuba ou DeNiro, e aí começa o grande trabalho de Mel Gibson que consegue tirar atuações bastante dignas de atores como o fraquíssimo Sam Worthington (Fúria de Titãs) e o inesperado Vince Vaughn (Penetras Bons de Bico), que estamos acostumados a ver em filmes de comédia, e entrega um trabalho que não compromete.O próprio Andrew Garfield, recém dispensado da franquia Homem – Aranha (relembre como foi), mergulha bem na veia religiosa do personagem, tanto que já concorreu ao Globo de Ouro com ele, o que o torna forte candidato a indicação do Oscar. Outro destaque também é Hugo Weaving (trilogia Matrix), que se tivesse mais tempo em tela como o pai de Doss, talvez pudesse beliscar uma vaga na categoria de coadjuvante.
A ótima montagem, disfarça algumas inconsistências quanto as convicções de Doss, como o fato de ele não aceitar pegar numa arma ou matar pessoas, mas aceitar sem problemas, ser o companheiro/médico de quem o faz. O argumento final melhora um pouco essas incongruências, mas não as resolve.
Alheio a alguns problemas com efeitos visuais, através de uma fotografia inteligente, Mel Gibson constrói tensão nas batalhas, transformando os japoneses em kamikases cruéis, é verdade, mas traz toda uma estratégia de campo que não nos deixa prever o que vai acontecer. Algo que vemos no momento icônico em que Doss salva muitos soldados. Faça questão de não estudar a história de Doss antes de ver o filme (como eu fiz), e você será pego por um suspense interessantíssimo aliado as boas cenas de guerra nessa terceira parte.
Até o Último Homem, também parece ter o cuidado de não transformar os atos de coragem de Doss em milagres ligados a religião, ao mesmo tempo que também não tenta ridicularizar a fé do personagem. É como se colocasse a responsabilidade dos atos de bravura do médico em uma coragem, advinda da fé que ele nutre, e não na fé em si.
Enfim, o filme também traz uma boa trilha sonora (pouco melodramática às vezes), enquanto Mel Gibson não economiza no sangue e tomadas fortes para mostrar a selvageria da guerra. Até o Último Homem é um bom respiro para os filmes de guerra, por apostar numa história inusitada, que parece não levar a nada, mas bem contada como é, acaba num arco curioso e inacreditavelmente tocante. Confira o trailer e nossa Chuck Nota logo abaixo…