Tu é doido macho!? que fuleragem é essa de novo!?…  é na base do “cearês” que começamos a falar desse que é um dos filmes mais originais da filmografia nacional, obra de um diretor com uma assinatura própria e indiscutível

Em O Shaolin do Sertão, durante a década de 80, lutadores de vale-tudo passam por dificuldades devido à falta de lutas profissionais. A fim de manter a paixão pela luta, eles desafiam os valentões no interior do Ceará que aceitam participar da competição criada. É assim que Aluiso Li (Edmilson Filho) vê a sua chance de ouro para realizar o sonho de se tornar um verdadeiro mestre das lutas como os heróis de seus filmes favoritos.

O filme já começa exemplificando uma fantasia de um grande fã de filmes de artes marciais, o que efetivamente, é um ótimo resumo para o longa. Uma grande fantasia de um cearense aficionado por artes marciais, que mesmo distante da China, se mantém próximo de seus heróis em pensamento.

Com humor inocente e boa parte das vezes, inofensivo (para os padrões de hoje), O Shaolin do Sertão traz referências óbvias a linha B de filmes de Kung Fu da China, mas também homenageia filmes icônicos como Rocky e Karatê kid. A ação ao melhor estilo pastelão, com os famosos “tapas nas fuças”, inegavelmente lembra as melhores fases dos Trapalhões, que dominavam as bilheterias do cinema nacional com filmes que conversavam com todos os públicos, filmes que tinham essa inocência e ao tempo certa sagacidade nas piadas. O longa também apresenta diálogos rápidos e bem escritos, aproveitando-se de situações do cotidiano, com alguma “tinta forte”, mas sempre com muita habilidade.

shaolin-do-sertao-edmilson-filhoO filme claramente tem um orçamento maior do que o esforçado (e ótimo), Cine Holliúdy, e o resultado é evidente, mostra um capricho de produção maior, cheio de ricos detalhes dos cenários cearenses. Halder Gomes aproveita as boas paisagens do nordeste brasileiro para fazer alguns belos planos abertos e contextualizados com as situações, principalmente durante o treinamento do Shaolin.

Gostando ou não, Halder Gomes é um diretor de personalidade, que valoriza a cultura local e principalmente sua nostalgia, ainda que seja um pouco regionalista, mas isso acontece com frequência aqui no eixo Rio – São Paulo também, e não notamos por fazer parte do cotidiano mais difundido nas mídias.

Com o passar do filme, em seu terceiro ato, mais especificamente, as piadas ficam cansativas e um pouco repetitivas, já não funcionam bem. Nessa reta final o filme parece tentar ganhar tempo com algumas”gorduras” desnecessárias no roteiro, e a própria luta de Telecatch no final fica circense demais, mesmo para a linha que o longa adota

De forma geral, o elenco se entrega a brincadeira. O ótimo Edmilson Filho que repete a parceria com o diretor Haldero-shaolin-do-sertao-agambiarra-04-1170x480 Gomes, parece contar uma história que ele mesmo viveu, de tão inserido que nela está. A ajuda do bom ator mirim Igor Jansen fazendo escada como o “Piolho” facilita também. Destaque ainda para Falcão como um hilário mestre chinês do Ceará cheio de “filosofias” e a participação especial de Dedé Santana, integrante original do grupo dos Trapalhões.

Enfim, O Shaolin do Sertão é um filme que exala paixão por artes marciais e pela cultura do interior nordestino. Apesar de oscilar bastante, principalmente no final, o longa diverte com um humor bem mais criativo e arriscado do que o cinema nacional tem apresentado nos últimos anos. Confira nossa “Chuck Nota”,  logo abaixo…

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