Após estabelecer seu universo com heróis mais populares (entre os que a Marvel tem direito de usar), o estúdio parte para mais um “teste de confiança” da marca com Doutor Estranho. Filme que efetivamente, se mostra o mais maduro da Marvel em termos de tom e conceitos. É um longa que segue a “fórmula Marvel de fazer filmes de heróis”, mas não chega a ser genérico por causa disso.
Doutor Estranho acompanha a história do mundialmente famoso neurocirurgião Dr. Stephen Strange cuja vida muda pra sempre após um terrível acidente de carro impedir que ele possa continuar utilizando as mãos. Quando a medicina tradicional fracassa, ele é foçado a procurar cura, e esperança, em um lugar improvável – um enclave misterioso conhecido como Kamar-Taj. Ele rapidamente descobre que esse não é apenas um centro de cura, mas também a linha de frente de uma batalha contra forças ocultas do mal determinadas a destruir nossa realidade.
Doutor Estranho é o filme mais independente do universo Marvel, funciona como uma peça isolada até mais do que o Homem – Formiga, que pode ser importante para filmes futuros, mas não depende dos anteriores. É como ver uma das séries da Marvel no Netflix, você sabe que se passa no mesmo mundo, que outros heróis estão ali em algum lugar, existem algumas pequenas pistas, como menção aos Vingadores, Jóias do Infinito e etc, mas não fica nenhuma ponta que realmente atrapalhe sua experiência em relação ao Doutor Estranho.
Como introdução, Doutor Estranho é praticamente perfeito. Apresenta o arrogante e bem sucedido Doutor Stephen , como uma espécie de Tony Stark, mas introduz o drama da reviravolta logo em seguida, para deixar as diferenças bem claras. Então, já fica o recado, apesar de serem de longe os dois melhores atores do universo Marvel atualmente, Benedict Cumberbatch e Robert Downey Jr definitivamente não terão a mesma função nos cinemas e na divulgação da Marvel. Outros aspectos bem trabalhados desse filme de origem são os conceitos de várias dimensões e a diferença de tempo espaço. Se o Thor já havia pincelado algo do tipo, Doutor Estranho escancara todo um novo mundo de “impossibilidades infinitas” como diz o cartaz.
Benedict Cumberbatch dá um show na pele do mago, consegue injetar um peso dramático impressionante ao personagem e diverte demais conjurando suas magias, lembrando até alguns movimentos de animês. Os únicos momentos em que você sente Bennedict e o restante do elenco desconfortável, são algumas cenas de humor meio fora de contexto. Fica e impressão de um espaço no roteiro em branco para “insira uma piada”, e definitivamente nem sempre funcionam.
O destaque entre os coadjuvantes fica com Benedict Wong (Wong), que trabalha muito bem como escada para as piadas (que dão certo) com Benedict Cumberbatch. O restante do elenco, recheado de estrelas como Chiwetel Ejiofor (12 Anos de Escravidão), Tilda Swinton (As Crônicas de Nárnia), Rachel McAdams (Spotlight), de forma geral não decepciona, mas também não entrega suas atuações mais inesquecíveis. Como de costume, exceto pelo Loki, a Marvel tem alguma dificuldade em apresentar um vilão carismático. O Kaecilius vivido por Mads Mikkelsen (série Hannibal) segue aquela receita básica dos quadrinhos da Marvel, uma versão má do herói, com os mesmo poderes. Aqui Kaecilius é um poderoso representante das artes místicas que discorda de seu antigo mestre e tem planos maiores para seus poderes, e para isso conta com alguns seguidores, no melhor estilo braço direito. Entre eles, o astro de ação Scott Adkins que acaba tendo o seu momento contra o Doutor Estranho, numa cena “mano- a- mano” que meio que testa as habilidades do herói em artes marciais.
A ótima trilha sonora, não é muito original, mas resolve as necessidades das sequências de ação, que naturalmente investem pesado nos efeitos visuais para reproduzir toda a pirotecnia do mundo do Doutor Estranho. Para ir além das comparações com A Origem, Doutor Estranho usa as impressionantes desconstruções de cenários (que você pode ver no trailer aqui), para dar peso as batalhas, as contextualiza de um forma que realmente fazem parte da ação. É preciso dizer, porém, que alguns “bonecões” de C.G.I ficam visivelmente artificiais nessas cenas. O 3D é tão bem utilizado quanto se imaginava, principalmente no que diz respeito a profundidade e ilusão de ótica. Se você realmente estiver concentrado no filme, a sequência em que Stephen Strange descobre o “outro mundo”, é quase hipnótica, você se sentirá girando num espaço infinito junto com ele, algo que é tão bem feito que chega a causar incômodo, uma sensação inexplicável.
Enfim, Doutor Estranho chega com a responsabilidade de abrir novas fronteiras no universo Marvel e apresentar um de seus personagens mais poderosos, sob essa visão, cumpre perfeitamente com suas funções. Brilha onde precisa, passa de forma regular por suas dificuldades e prepara o terreno para um novo e “surpreendente” vilão construído em cima de ótimos conceitos e justificativas. E a já tradicional cena pós – créditos, tem? Sim, tem, duas na verdade. Uma no meio dos créditos, que tem a ver com o próximo filme da Marvel, e outra depois dos créditos, que liga diretamente ao próximo filme do Doutor Estranho, então aguarde as luzes acenderem 😉 … Confira nossa “Chuck Nota”, logo abaixo…