Em Cartaz
O novo filme de Mel Gibson (Mad Max e Máquina Mortífera) chega aos cinemas com a simplicidade de um astro ainda humildemente explodindo carisma, num filme sem grandes pretensões, mas com muito potencial.
No longa, John Link (Mel Gibson) vive em meio ao deserto na Califórnia onde seu trailer também serve como estúdio de tatuagem. Vivendo longe de drogas e violência, ele tem seu cotidiano afetado com a chegada de sua filha desaparecida que está jurada de morte por traficantes. Ele fará de tudo para protegê-la.
O filme começa com alguns sustos, sinais de direção ruim que podem causar a impressão de estar assistindo um desses filmes B. A técnica de câmera tremida, sempre muito bem vinda em suspenses de ação, aqui em Herança de Sangue é usada em exagero pelo diretor francês Jean-François Richet (Assalto à 13º Delegacia), as vezes até em cenas de diálogos simples, com personagens parados, algo que nos deixa com certa agonia e vontade de pedir para alguém parar a câmera rs. Apesar de ser melhor contextualizada no decorrer do filme, o excesso da técnica continua incomodando até o final, assim como alguns ângulos de fotografia desnecessariamente experimentais, com câmeras viradas e etc, uma grande prova de que as vezes, menos é mais.
Por outro lado, há boas tomadas nos cenários de deserto, a iluminação e o clima conseguem fazer um paralelo inteligente com o mundo solitário de John Link. O personagem é apresentado apenas como um ex-presidiário na condicional que tenta se manter “limpo” e longe confusão, enquanto espera por notícias de sua filha desaparecida. O tal desaparecimento da filha, inclusive, é a ponta mais solta no filme, que em nenhum momento apresenta qualquer justificativa sobre o sumiço, apenas joga essa plot para deixar um certo desconforto (necessário) na relação entre pai e filha para que história funcione.
O roteiro é direto, basicamente um suspense de ação com base numa perseguição de vingança. O filme é bastante curto (menos de 1h30m), e poderia comportar um pouco mais de tempo, principalmente no início, para desenvolver e nos fazer ter mais empatia com John Link e sua filha, algo que talvez só aconteça mais próximo do final, e com grandes méritos para o carisma e esforço de Mel Gibson. Mel é inegavelmente o que sustenta o longa, mesmo com com um background superficial, ele dá consistência ao personagem, logo em sua apresentação a presença do mítico e polêmico astro, parece dar início a outro filme e amenizar as falhas do início, numa dinâmica totalmente diferente.
O longa foge de uma estrutura básica de vilão e herói. Apesar de apresentar a ameaça no início, não se concentra em um vilão apenas, na verdade para todo o lado que Link e sua filha vão para fugir do tal cartel, eles acabam encontrando problemas do sistema como um todo. John também não chega a ser um herói urbano perfeito, está mais para um pai pagando por sua consciência pesada.
A ação, em menor número do que se esperava, traz um bang bang clássico, com Mel Gibson armado (no melhores momentos com armas “badass” de cano longo) e sem parecer ser um grande especialista, ex-soldado ou coisa do tipo, fato que funciona maravilhosamente, pois Gibson nos leva a sentir o perigo que um “cara comum” corre, sem grandes treinamentos, sem muitos reflexos pela idade, mas que já passou por muitas coisas e sabe se virar por causa dessas experiências. Aqui também um pouco mais de cuidado com a parte técnica, principalmente em edição e som teria dado um ganho ao filme. A maioria das cenas de ação não está comprometida, são corretas, mas com o toque certo poderiam ter um peso maior, ser mais tensas e, assim, encorpar a história.
Surpreendentemente os ótimos diálogos são o que há de melhor em Herança de Sangue. Entre uma ou outra cena de ação, o filme sempre introduz momentos de reaproximação de pai e filha e nessa dinâmica saem algumas ótimas conversas, cheias de cinismo por parte da filha e experiência de vida do pai. São textos bem escritos, com boas reflexões que se destacam, sem serem chatas e nem forçar a comédia.
Enfim, Herança de Sangue está mais perto de um faroeste moderno do que da ação clássica. É um filme de redenção, tanto para o pai de passado problemático, quanto para a filha de futuro incerto. Uma pena o próprio Mel Gibson não ter assumido a direção do, que entrega o básico que se espera, mas não consegue ficar acima da média justamente por problemas de direção, irônico para um filme protagonizado pelo talentoso vencedor do Oscar Mel Gibson, que é quem faz essa experiência valer a pena… Confira nossa Chuck Nota logo abaixo e veja o trailer aqui…