Lançamento: 18/08/2016
A nova versão de Ben – Hur entra em cartaz carregando o enorme peso de ser uma refilmagem de um dos maiores clássicos da história do cinema. O épico de 1959, estrelado pelo lendário Charlton Heston venceu simplesmente 11 Oscars e manteve o recorde de estatuetas por mais de 50 anos. O Ben – Hur moderno, no entanto, chega menos pretensioso, e depois de um primeiro trailer desanimador, surpreende com ritmo e menos megalomania do que se esperava.
O filme mostra a história de Judah (Jack Huston) um nobre injustamente acusado de traição ao Império Romano, que sobrevive a anos de escravidão para se vingar de seu irmão Messala (Toby Kebbell), responsável por sua condenação. Ao recuperar sua liberdade, Judah se torna um exímio competidor de corrida de bigas e encontra a chance de enfrentar seu traidor na arena.
Sem inventar muito, o diretor Timur Bekmambetov (O Procurado) se equilibra na corda bamba para encontrar o tom épico e manter o vigor moderno de ação,e é justamente nesse quesito onde o russo se sai melhor.
Os maiores exemplos do sucesso na hora de administrar a ação, são as cenas do naufrágio e claro, a corrida de bigas. Na cena do naufrágio do navio de escravos o diretor mostra intimidade com os cortes rápidos e fotografia frenética para aumentar adrenalina. Já na incontestável cena das bigas – que segundo, Jack Huston foi totalmente real – o filme brinca com os nervos do espectador, num ótimo jogo de edição e efeitos especiais bem finalizados (sim Jack Huston, eu vi os efeitos especiais rs), uma bela e imprevisível sequência de ação que vale o ingresso por si só.
O roteiro depende basicamente da relação de Judah e Messala, mas não consegue desenvolvê-la até chegar ao ponto necessário (apesar de ser um filme de 2h), os acontecimentos são um tanto apressados e cheios de saltos de tempo, o que dificulta muito entender certas viradas da história e de personagens. Nessa linha, existem alguns lampejos de romances super mal resolvidos que parecem flutuar ao redor da história, mas nunca se fazem necessários para o desenvolvimento dela.
O filme também apresenta alguma irregularidade nas atuações. Jack Huston tem participação satisfatória, tenta evocar o estilo de Russel Crowe, sem o mesmo talento, mas com muito esforço. Morgan Freeman vai bem como de costume, apesar de estar repetindo o papel do “mentor”. Por outro lado, Tobey Kebbel, que tem se tornado especialista em captura de movimentos (Planeta dos Macacos e Warcraft), não consegue repetir o desempenho de “cara limpa”, não está à vontade com seu Mesalah e força a mão de forma incômoda no personagem. O Jesus de Rodrigo Santoro é pouco utilizado, quase um “fan service” cristão, que mostra Cristo em segundo plano pelo olhar principalmente de Judah Ben – Hur. No entanto, o brasileiro tem seus bons momentos na pele do messias, sempre com um tom carregado e um peso dramático convincente, ainda que sofra com a insistente trilha sonora dramática, que ao invés de trazer emoção parece bloqueá-la.
Um ponto que também precisa ser tocado é a falta de cuidado na retratação do tempo histórico. Entre os exemplos, um inexplicável penteado moderno de Ben – Hur, feito de uma forma mais inexplicável ainda rs.
Enfim, Ben – Hur chega a escorregar num final piegas que praticamente ignora a seriedade dos acontecimentos anteriores. E apesar desses 20 minutos de final que poderiam não existir, a produção foi claramente planejada para encontrar o meio termo entre o público jovem e os cristãos mais cativos, e de fato, pode facilmente ser apreciado por ambos os lados. Ben – Hur acaba mostrando saídas interessantes para recontar a clássica história, e principalmente, se resolve bem como entretenimento através de seu volume e qualidade de ação. Confira nossa Chuck Nota logo abaixo.