Estréia: 25/08/2016 (próxima semana)
Sabe aqueles filmes “pequenos e baratos” que vão dando o que falar devagarzinho no boca a boca e se tornam sucessos. Águas Rasas tem esse potencial, apesar de “surfar” por ondas desnecessariamente perigosas.
Nancy (Blake Lively) está surfando sozinha em uma praia isolada, quando é atacada por um tubarão branco e encurralada a poucos metros de distância da praia. Apesar de estar muito perto, chegar até lá se mostra uma imensa prova de sobrevivência.
Águas Rasas tem o que é prioridade em sua proposta, o clima tenso. Numa das melhores releituras modernas de Tubarão, o filme usa alguns artifícios bastante simples para manter a tensão alta. É um longa que engana no começo, somos levados a pensar numa daquelas histórias de terror adolescente, mas Águas Rasas está um pouco acima desse rótulo. O roteiro é inteligente ao seguir o conceito do “menos é mais” e não ter muitos personagens para explicar. A única personagem com a qual realmente teremos que nos importar é a Nancy (e talvez o Tubarão).
No entanto, há uma tentativa mal executada de criar um background para a personagem em cima de traumas familiares do passado e sua virtual tentativa de superação deles, tudo fica muito solto, não acrescenta nada para o filme e ainda serve para confundir o espectador. O roteiro acaba se mostrando frágil demais para sustentar esse “drama pessoal” e fazer com que fiquemos totalmente afeitos a protagonista, quando talvez focar no drama momentâneo que ela passa funcionasse melhor no pouco tempo que temos para conhecê-la.
O diretor Jaume Collet Serrat (A Órfã, Desconhecido) mantém sua característica principal de valorizar o suspense, mas encontra desafios diferentes, como transformar o belo cenário no espaço claustrofóbico que se especializou em criar e precisa apresentar aqui. As imagens filmadas numa praia australiana (e que bela praia) e em uma piscina gigantesca, trazem um deslumbre especial para o espectador que inevitavelmente vai se imaginar naquele ambiente, e esse é um bom truque da narrativa para fazê-lo também sentir o medo que Nancy sente. Um dos aspectos melhor utilizados é a edição e mixagem de som. A captação feita no ambiente somada aos efeitos nos levam diretamente a praia, escutamos cada onda batendo, cada braçada, o vento, enfim, uma imersão que cresce com as telonas do cinema.
O design de produção usa bem as cores para fazer um paralelo das diferentes sensações. Principalmente a mistura do vermelho (sangue) com a água cristalina do mar. O tubarão em si, é um acerto do filme, realista e ameaçador, ele tem boas texturas e interage bem com os personagens. Obviamente, devido a evolução tecnológica e a facilidade logística, a fera é totalmente digital.
Porém, o filme ainda exagera em algumas soluções visuais, como mostrar a tela do celular em display nas cenas, algo desnecessário e incomodo que tira credibilidade confiança do roteiro e que sequer funciona para explicar as plots jogadas, como eu disse algumas linhas atrás. Também existem algumas sequências no mar, feitas em G.G.I, que ficam artificiais e servem apenas para introduzir “bonitas” sequências de surf como pano de fundo para o drama do filme.
Águas Rasas traz muitas referências de outros filmes, a mais clara é o clássico de Steven Spielberg, Tubarão, mas não é difícil encontrar O Naufrágo de Tom Hanks por todos os lados, numa escala menor claro e com direito a sua própria versão de “Wilson”
A estonteante Blake Lively, mais conhecida pela série Gossip Girl e pelo mal – fadado Lanterna Verde, combina perfeitamente com o belo visual da ilha e se mostra carismática num filme que praticamente lhe dá uma oportunidade solo. Ela consegue entregar mais do que se imagina, principalmente da metade para o final, onde o desgaste físico da personagem é mais aparente.
Enfim, Águas Rasas tem seus problemas e está longe dos exageros de quem o vem exaltando demais. O filme aproveita um daqueles roteiros que ficaram na lista negra americana para apresentar uma história certeira e direta, com foco no suspense clássico e com uma personagem feminina tão sortuda quanto inteligente. Essa sorte misturada com inteligência consegue dar um desfecho inacreditavelmente fora da caixinha para a situação, se isso foi bom, vou deixar você tirar suas conclusões, mas o que é bom mesmo é ver um longa arriscando novas soluções de vez em quando… Confira nossa Chuck Nota logo abaixo…