Lançamento: 28/07/2016
Seguindo uma tendência dos estúdios cada vez mais ávidos por bilheterias garantidas e franquias duradouras, a mesma Universal de Velozes e Furiosos, traz de volta o personagem que lhe rendeu uma aclamada trilogia recente, e quem sabe, poderá render mais uma. Jason Bourne marca o retorno de Matt Damon a franquia e ignora completamente O Legado Bourne de 2012, tentativa mal sucedida de substituir Matt Damon e seu Jason Bourne por Jeremmy Renner que encarnava um personagem similar “criado” no mesmo programa do governo.
No filme Jason Bourne (Matt Damon) desapareceu no mundo e vive de lutas clandestinas, quando é reencontrado por Nicky Parsons (Julia Stiles), antiga conhecida que traz à tona uma trama de traição que poderá esclarecer muitas dúvidas sobre o passado de Bourne e sua família.
Jason Bourne pode ser assistido tranquilamente por quem não viu os outros filmes, pois é episódico. Logo no início o filme já trata de fazer um apanhado de cenas da franquia que deixam sub-entendido quem é Jason Bourne e de onde vem sua bagagem. É óbvio que quem assistiu a trilogia original vai poder aproveitar melhor a atmosfera do longa, exatamente como um fã de quadrinhos quando vê filmes de super-heróis. O leigo se diverte, mas o fã vai ter uma experiência diferente.
O roteiro aparentemente simples e num primeiro momento, até repetitivo, busca nas origens de Jason Bourne a plot principal. Essa caçada incessante de Matt Damon pelo passado gera novamente uma série de subtramas de traição e espionagem características da franquia. Jason Bourne também traça um paralelo claro e bem armado com o famoso caso de vazamento de informações de Edward Snowden, o Weekleaks (Inspiração que o próprio filme trata de fazer justiça ao citar o caso).
A vencedora do Oscar Alicia Vinkader (A Garota Dinamarquesa) é Heather Lee, uma personagem que aparentemente só está no filme para facilitar a vida dos roteiristas, já que funciona como um fio condutor para manter a história acontecendo sempre que Jason Bourne se vê sem saída. Porém, essas interferências “cômodas”, de vão sendo explicadas aos poucos e Lee se torna uma personagem com coerência narrativa conforme entendemos suas motivações (até para uma possível continuação). Ainda sobre o elenco, a aparência decaída de Julie Styles (10 Coisas que eu Odeio em Você) deve ser um grande choque para o público da trilogia original, que se acostumou a vê-la sempre com muita vitalidade. O ótimo ator francês Vincent Cassel (Cisne Negro) está sub-utilizado em um vilão de motivações pouco claras, enquanto Matt Damon mostra que tem total domínio sobre a franquia para retornar extremamente à vontade e, em boa forma. O destaque fica para o veterano Tommy Lee Jones que parece ter entendido como usar suas marcas do tempo e expressões fechadas para apresentar uma atuação segura e amedrontadora.
Já o diretor Paul Greengrass planejou com rara competência as cenas de ação, e como de costume na franquia, elas ficaram de tirar o fôlego, como duas super perseguições, uma em meio a um protesto na França, ambiente caótico e cheio de possibilidades que são muito bem exploradas e outra em Las Vegas, com uma dose cavalar de adrenalina, (fecharam uma rua para gravação). O confronto violento entre Jason Bourne e o vilão Vincent Cassel mostra um estilo de luta muito natural, pouco marcado por coreografias e realista justamente por não ter pausas dramáticas, os adversários estão desesperados e cada vacilada de segundos pode levá-los a morte (como eu acredito, seria uma briga de verdade entre gente desse nível) esse é o tom das lutas o filme inteiro. A edição não tem arestas, consegue se ver com nitidez o que acontece. Existem efeitos em C.G.I, mas são quase imperceptíveis, a ação e impacto que vemos passam sempre a impressão de serem efeitos práticos.
Essas sequências de ação são impulsionadas por uma edição de som espetacular, que tornam Jason Bourne desde já, um forte candidato ao Oscar desse ano. Os sons crus trazem tensão para o filme, desde um simples estampido aos socos de Jason Bourne, o áudio é forte e familiar, te deixa próximo e dá peso aos acontecimentos. O mesmo não se pode dizer da trilha sonora oscilante, que tem momentos muito eloquentes e outros em que parece não ornar com o que vemos em tela .
Enfim, Jason Bourne traz de volta o estilo que renovou o público dos filmes de ação nos anos 2000, com foco no realismo e personagens mais comuns, inspiração declarada da nova fase do 007 (com Daniel Draig). Essa nova parceria entre Matt Damon e Paul Greengrass restabelece os padrões altos de cinema de ação que a dupla alcançou na primeira trilogia, com adrenalina pura, sem se render aos modismos que surgiram nesse meio tempo… Confira nossa Chuck Nota logo abaixo.