Estréia: 19/05/2016
A franquia X-Men tem um lugar especial na cultura pop, por mais que alguns fãs torçam o nariz para a adaptação, não há como negar, o diretor Bryan Singer é um apaixonado pelos personagens e se lá no distante ano de 2000 não tivesse vestido os mutantes de couro e feito um filme decente com pouco orçamento, hoje os nerds não teriam essa invasão de heróis no cinema. Aqui em X-Men: Apocalipse, Singer mantém alguns vícios incômodos, mas mostra que ainda sabe entregar o entretenimento que os fãs se acostumaram a acompanhar durante todos esses anos.
Em X-Men: Apocalipse, desde o início da civilização, ele era adorado como um deus. Apocalipse, o primeiro e mais poderoso mutante do universo X-Men, acumulou os poderes de muitos outros mutantes, tornando-se imortal e invencível. Ao acordar depois de milhares de anos, ele está desiludido com o mundo em que se encontra e recruta uma equipe de mutantes poderosos, incluindo o desanimado Magneto (Michael Fassbender), para purificar a humanidade e criar uma nova ordem mundial, sobre a qual ele reinará. Como o destino da Terra está na balança, Raven (Jennifer Lawrence), com a ajuda do Professor Xavier (James McAvoy), deve levar uma equipe de jovens X-Men para parar o seu maior inimigo e salvar a humanidade da destruição completa.
A cena inicial é surpreendentemente “gore”, com sangue e cenas relativamente fortes para um filme de super – heróis tradicional. Nesse momento o diretor Bryan Singer também consegue fazer uma apresentação bastante competente do Apocalipse, do conceito dos cavaleiros de Apocalipse e até do contestado visual do personagem, que pode ser explicado por seus métodos de sobrevivência.
A grande expectativa do filme girava em torno do próprio Apocalipse, creio que todos que cresceram lendo ou vendo animações de X-Men consideram Apocalipse o vilão definitivo, “over power dos over powers”. Sem dúvida sua introdução é esmagadora (quase que literalmente), o ator Oscar Isaac (Star Wars: O Despertar da Força) começa muito bem com sua eloquência e olhares incrédulos, num estilo quase shakespeariano, mas isso cansa e se torna exagerado com o passar do longa. O esforço de atuação de Oscar Isaac leva o personagem a uma teatralidade desnecessária que fica ainda mais evidente com a economia de cenas de ação (um dos vícios dos filmes de Singer). Apocalipse não mostra grande lógica na escolha de seus cavaleiros e parece se esquivar das cenas de ação o que é um grande desperdício do potencial do personagem.
De forma geral o arco dos vilões é mal desenvolvido, não entendemos bem os porquês de Tempestade, Psylocke e Arcanjo, e mesmo o caminho narrativo que parecia mais simples, o retorno do Magneto, acaba trazendo uma das cenas mais constrangedoras do filme com uma preguiça no nível “nossa o nome da minha mãe também é Martha, vamos ser amigos agora”…
Por outro lado os X-Men em si, trazem o frescor que a franquia precisava e são desenvolvidos de forma objetiva e bem amarrada, claro que o fato dos poderes mutantes terem origem no D.N.A, facilita muito o trabalho de Bryan Singer, que precisa basicamente arrumar tempo para apresentar os poderes de forma criativa, e olha que isso o diretor ainda sabe fazer bem.
Cyclope começa finalmente a dar sinais de personalidade na franquia, com um arco dramático necessário e bem aproveitado para seu crescimento. Noturno tem uma tímidez inerente que lembra a versão de sucesso da série animada X-Men: Evolution e a Jean Grey de Sophie Turner (Game of Thrones) cresce durante o filme e deixa sua marca nos momentos finais ( para os mais atentos, um belo indicio do que vem pela frente ). Um alívio que você terá ao ver X-Men: Apocalipse é constatar que a Mistica tem menos protagonismo do que parecia, a personagem de Jennifer Lawrence tem um valor mais simbólico para história, enquanto James McVoy entrega um Charles Xavier bastante profundo como de costume (até demais, beirando os problemas do Apocalipse), porém o destaque fica mesmo para o Mercúrio de Evan Peters. Personagem muito mais carismático nesses últimos dois filmes do que jamais foi nos quadrinhos (ou no filme da Marvel). Assim como em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido o velocista tem a melhor sequência do longa, usando e abusando de seus poderes ao som da música clássica dos anos 80, “Sweet Dreams” do Eurytmics.
Aliás o trabalho de referência aos anos 80 (década em que o filme se passa) é divertidíssimo, um grande cardápio de nostalgia e detalhismo delicioso de se prestar atenção. As sacadas vão desde as mais escancaradas como a jaqueta de Michael Jackson no Notuno, camiseta do Rush no Mércurio, febre Star Wars e etc, até os penteados e figurinos minuciosamente copiados da década (principalmente entre os adolescentes).
Os efeitos visuais são bem finalizados, variam a paleta de cores sempre que necessário para deixar as cenas com melhor contraste. Exceto por uma ou outra cena que conceitualmente lembra muito os vídeo – games, a direção de fotografia mantém o plano médio a maior parte do tempo, o que nos permite acompanhar a ação sem se incomodar com os “bonecos digitais”.
A cena da batalha final, amplamente divulgada em trailers, ainda guarda algumas boas surpresas. Lutas ótimas em uma grande demonstração dos poderes mutantes. Todos tem seu espaço para aparecer. Os variados estilos de combate são uma atração a parte aqui como sempre foram nos quadrinhos.
Outro grande destaque é a boa edição e mixagem de som. Tudo tem impacto, cada pedra que se arrasta faz acontecer uma imersão sonora extremamente competente, você chega a sentir os tremores (mesmo sabendo que não é um 4D rs).
E antes de encerrar você quer saber do Wolverine, certo? Bem como mostrado no último trailer, o mutante mais famoso do universo X-Men está sim no filme, porém, realmente em curta participação. É preciso dizer que a cena não é um fã service gratuito, é bem feita, ação bem coreografa, tem sua importância para o enredo (apesar de ser incoerente com os acontecimentos do último filme) e lembra demais os elementos dos quadrinhos dos quais foi baseada. Preparem-se para um Wolverine mais animalesco como tantos queriam ver… e por falar em Wolverine, existe uma cena pós – créditos ligada a ele que pode dar pistas de um novo vilão da franquia , então não saia correndo da sessão.
Enfim, a teatralidade e intensidade de X-Men: Apocalipse prejudicam o aproveitamento do potencial do filme como o blockbuster de ação a que ele se propõe, mas mantém sua personalidade, ainda bastante distante dos sucessos concorrentes, e no balanço final entrega um entretenimento bem desenhado que te deixará na ponta da cadeira em alguns momentos e, principalmente, planta sementes de curiosidade para uma continuação… Confira a Chuck Nota logo abaixo…