Por: Bruno Sawyer
Estréia: 18 de Fevereiro
Infelizmente, o número de mulheres sequestradas e mantidas em cativeiro por anos é assustador. Sabemos de notícias pela mídia quando algum caso tem um desfecho, mas é possível imaginar que os arquivos policiais estão cheios de desaparecimentos sendo investigados e longe de serem concluídos.
O Quarto de Jack trata deste assunto de forma bem real e fiel às possibilidades emocionais dos envolvidos no processo, pois além do sequestrador e da vítima, há também a família da pessoa que foi sequestrada. Um acontecimento desses muda drasticamente as vidas de muitas pessoas, inclusive daqueles (que não são poucos) acabam sendo concebidos no cativeiro, uma vez que o abuso sexual está presente em praticamente todos os casos.
Nesta história temos Jack (Jacob Tremblay), um garoto de cinco anos de idade que nasceu no cativeiro onde sua mãe estava já há dois anos. As tomadas fazem o espectador refletir bastante sobre a vida, uma vez que um ser humano normal nasce e vai tendo contato com o mundo durante toda a sua vida, mas Jack nunca saiu do seu quarto e aquele pequeno espaço acabou sendo o seu mundo, onde ele assiste TV, brinca, ouve histórias da mãe e aprende.
Sua percepção sobre o que de fato acontece com ele e com a mãe é prejudicada pelo fato de não ter tido experiência alguma no convívio social, ou seja, para ele, as únicas pessoas reais eram si próprio, sua mãe e o “Velho Nick”, o homem que os mantinha em cativeiro. Brie Larson interpreta Joy, a mãe do garoto que foi sequestrada aos 17 anos de idade. A concorrente ao Oscar desse ano transmite de forma muito crível as emoções de uma mulher que fazia o que podia para tornar aquela situação menos desesperadora.
A cumplicidade e o amor incondicional de um pelo outro ajudam Jack e Joy em vários pontos do enredo. Jacob mostra um talento descomunal para seus nove anos de idade, pois a verdade que ele mostra em sua interpretação é digna de estatueta do Oscar. Fora do cativeiro, o espectador vai se deparar com uma série de questões que envolvem a complexidade de um acontecimento desse porte, mas vale destacar o aprendizado do garoto, que ainda está “cru” para o mundo absorve uma infinidade de informações novas diariamente e se adapta da forma que pode. Imagine se você nascesse com todos os sentidos formados já num mundo como esse…
O Quarto de Jack tem uma trama densa e com forte carga emocional. O longa pode parecer arrastado em alguns momentos, mas isso justamente passa o que acontecia da forma mais verossímil. As tomadas são precisas, o roteiro é bem desenvolvido e as carregadas interpretações dos atores principais dispensam comentários. Além disso, o diretor Lenny Abrahamson (indicado ao Oscar 2016) faz um trabalho intimista, sempre com a câmera muito próxima, pouquissimo uso de trilha sonora para deixar a história ainda mais sufocante. O Quarto de Jack, afinal, é uma bela mensagem filosófica.