Acompanhamos nos últimos anos o crescimento de um gênero de cinema que por muito tempo esteve nas mãos de apenas dois personagens (Superman e Batman), e que com o próprio Batman caiu em descrédito. Os super – heróis de quadrinhos ressuscitaram para a sétima arte com o sucesso de X-Men – O Filme (2000) e Homem – Aranha (2002) que deram aos estúdios a segurança para investir em verdadeiras obras primas como a trilogia Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan e o universo Marvel que culminou no avassalador Os Vingadores. Capitão América 2 : O Soldado Invernal chega aos cinemas dando mostra de que com a ajuda do Marvel Studios o gênero quadrinhos está no auge de sua forma…

Dois anos após os acontecimentos em Nova York (Os Vingadores), Steve Rogers (Chris Evans) continua seu dedicado trabalho com a agência S.H.I.E.L.D. e também segue tentando se acostumar com o fato de que foi descongelado e acordou décadas depois de seu tempo. Em parceria com Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), também conhecida como Viúva Negra, ele é obrigado a enfrentar um poderoso e misterioso inimigo chamado Soldado Invernal, que visita Washington e abala o dia a dia da S.H.I.E.L.D., ainda liderada por Nick Fury (Samuel L. Jackson).
Os irmãos Anthony e Joe Russo ganharam um belo presente ao assumir a direção de Capitão América 2, uma vez que devidamente apresentado no primeiro filme os diretores não precisaramm se preocupar com a parte mais maçante de um herói, contar suas origens. Dessa forma há uma liberdade conduzida magistralmente pela dupla na hora de trabalhar as diferentes camadas de personalidade do Capitão, que ainda não haviam sido apresentadas ao grande público, em Os Vingadores apesar de assumir a liderança do grupo fica claro que o Capitão é eclipsado por outros personagens mais interessantes naquele contexto como o já estabelecido Homem de Ferro, a fantástica nova versão do Hulk e até mesmo o lado exótico da magia de Thor e Loki. Em sua própria franquia, porém, os diretores conseguem começar a preencher as lacunas do personagem e torná-lo mais atrativo, o Capitão América é mostrado como alguém ainda com muitas dificuldades em se adaptar aos novos tempos depois de anos de congelamento, ele acaba agindo quase como uma máquina, missão após missão, cumprindo seu dever de forma correta, vivendo em nosso mundo sem desfrutar do que ele tem de “melhor”. Uma característica que a Marvel introduziu para conversar melhor com os mercados estrangeiros é a de que o Capitão deixou de ser aquele soldado de patriotismo inabalável e tratado como arma do governo americano para se tornar um personagem contestador e de opinião própria, que apesar de disciplinado tende a debater o que há por trás das ordens recebidas.

Cresce a importância da S.H.I.E.L.D na história, há um embate de ideologias entre o Capitão América e Nick Fury, Nick faz tudo que é preciso para tomar medidas preventivas contra ameaças internacionais, de espionagem até conspirações, para ele os fins importam mais dos que os meios, e o conflito com o Capitão é justamente sobre as decisões éticas e morais que os políticos tomam durante o filme, no meio deste fogo cruzado de ideias está a Viúva Negra , com conceitos morais bem mais flexíveis ela executa as ordens sem tantas preocupações, o que torna o trio divertidamente inconstante e importante para o roteiro, que muda completamente a forma como a S.H.I.E.L.D foi vista até agora no universo Marvel e deve ter influência direta nos próximos filmes.
O longa apresenta a paranoia dos filmes de espionagem dos anos 70, repleto de reviravoltas e armadilhas que vão sendo desvendadas pela narrativa convincente e redonda, que insere temas mais obscuros que os habituais, mas sem deixar que esqueçamos de que se trata de um filme de super herói, sendo assim a diversão continua e neste filme especialmente é possível sentir o clima de uma leitura de quadrinhos, enxergar os quadros e ficar alucinado com esta sensação, o humor está bem mais contido aqui dos que nos outros filmes da Marvel, é possível identificá-lo em momentos bastante pontuais, como as tiradas do Falcão Negro e a famosa piada com a “virgindade” do Capitão. Outro momento que pode gerar risos (ou fúria) é o caderninho onde o Capitão anota alguns ícones de Cultura Pop que ele perdeu durante o sono e precisa conhecer. Adaptado para os diferentes mercados, no Brasil, por exemplo, O Capitão anotou que precisava conhecer : Mamonas Assassinas, Xuxa, Wagner Moura e etc. Pessoalmente achei uma péssima ideia da Disney/Marvel, que descontextualiza a experiência e o personagem, esta brincadeira poderia muito bem ser feita com ícones de abrangência mundial que seriam reconhecidos pelos diferentes mercados.
Como filme de ação Capitão América 2 – O Soldado Invernal, talvez seja a melhor obra baseada nas histórias da Marvel, as cenas são fantásticas, a câmera bem posicionada não te deixa perder um detalhe sequer. Somos presenteados com uma das melhores cenas de perseguição que o cinema já viu, assim como, lutas extremamente bem coreografadas e impactantes. O Capitão passa a fazer mais uso do escudo o que somado a excelente edição de som traz peso para lutas, cada som do escudo recocheteando nos adversários é um entretenimento a parte. Cabe dizer que os vilões foram muito bem escolhidos e trabalhados em diferentes momentos, começando pelo embate do Capitão contra Batroc no início do filme, vivido pelo lutador do U.F.C, George S.T Pierre, Batroc se mostra um oponente físico interessante e de ótimos recursos na luta corpo a corpo, já o Ossos Cruzados, é apenas introduzido no filme como Brock, interpretado por Frank Grillo, o personagem deu mostras do que pode fazer e deve se tornar um grande algoz para as próximas aventuras do Capitão, enquanto o Soldado Invernal do título é uma figura que centraliza as atenções toda vez que aparece, com habilidades que num primeiro momento parecem superar o Capitão, o Soldado Invernal não é um vilão por natureza, é uma vítima de experiências que é programada para seguir ordens e ignorar lembranças, quase como o conceito Exterminador do Futuro, e é exatamente isto que torna o final do personagem tão intrigante e causa expectativa para os próximos filmes.Chris Evans está mais adaptado a cada filme que passa, mas não deixa de mostrar as conhecidas limitações de sempre, o que em absoluto não atrapalha o filme. Samuel L Jackson tem neste longa a maior participação de seu personagem em todos os filmes da Marvel e como era de se esperar cumpre o objetivo com um competência exemplar, Robert Redford também dispensa comentários em presença marcante, enquanto Scarlett Johansson pode ainda não nos convencer de que sabe fazer todas as coisa que a dublê faz, mas continua sendo um Viúva Negra hipnotizante. Destaque especial para Anthony Mackie que caiu como uma luva no Falcão Negro (não é mencionado assim no filme), muito desenvolto na comédia o ator esteve também excelente nas cenas de ação.
Enfim, Capitão América 2 – O Soldado Invernal é sem dúvida um filme como os fãs queriam ver, com respeito as tradições dos quadrinhos e aberturas para a continuação do universo Marvel, inclusive com menções a personagens que farão parte da “fase 3” do estúdio, continua sendo impressionante como o Marvel Studios costura suas tramas de forma individual, mas sem esquecer jamais de seu objetivo maior que é manter todos os heróis em único universo coeso entre si. Aqui vão duas dicas , o 3D novamente é dispensável, pois não acrescenta nada ao filme, e fique atento o longa tem 2 cenas pós- créditos (no meio e final dos créditos), uma delas extremamente importante para Os Vingadores 2…dizer que Capitão América 2 é o melhor filme da Marvel como tem sido dito é difícil , pois é uma questão de gosto, é certo dizer porém, que este é um dos grandes filmes do gênero que a Marvel tem ajudado a tornar a maior grife do cinema atual, as histórias em quadrinhos…Veja nossa “Chuck Nota” logo abaixo…



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